sábado, 1 de novembro de 2025

Mãos em concha

 


Não pensei duas vezes quando tive o impulso irresistível de posicionar minhas mãos em concha na expectativa de que eu poderia, com meu pensamento, reter o que houvesse por aqui e que valesse a pena o apanho para mais tarde dissecar minimamente a presença relevante dos assuntos que me invadiram assim como ao meu redor, não havendo distinção neste primeiro momento.

Se torna quase impossível neste marulhar de conversas atravessadas distinguir o sentido que, nesta situação, passa de fininho pelo ouvido como se fosse um pequeno rasgo de conversa que tem a intenção de fugir depois de se imiscuir no significado.

Resolvi despejar o que recolhi sem sentido aqui mesmo na areia da praia que sempre tem em prontidão o destino de quem aparece em seu leito. Deixei ali o amontoado de inutilidades que minhas mãos se dispuseram, sem precaução arrebanhar e fui tatear o que está sendo selecionado por estas vozes que sussurram deixando sem audição o entendimento.

De outro lado olhei para minhas mãos postas em receptáculo e percebi que de certo modo elas também deixavam transparecer que acontece o peneiramento das ideias as quais eu queria tanto reter. Me esforcei para arregimentar paciência de observação e encontrar o ponto correto da separação e conseguir deixar o precioso argumento com cor e forma diferente do que apareceu tão de repente. Parece-me que no dia de hoje não tem vento que sopre a favor de nada deixando sem movimento tudo o que possui um sopro de vida. Me conformei e deixei cair docemente o rabicho de um pensamento qualquer. Escolhi a espuma do mar.

Mãos em concha

  Não pensei duas vezes quando tive o impulso irresistível de posicionar minhas mãos em concha na expectativa de que eu poderia, com meu pen...