Não pensei duas vezes quando
tive o impulso irresistível de posicionar minhas mãos em concha na expectativa
de que eu poderia, com meu pensamento, reter o que houvesse por aqui e que
valesse a pena o apanho para mais tarde dissecar minimamente a presença relevante
dos assuntos que me invadiram assim como ao meu redor, não havendo distinção
neste primeiro momento.
Se torna quase impossível
neste marulhar de conversas atravessadas distinguir o sentido que, nesta
situação, passa de fininho pelo ouvido como se fosse um pequeno rasgo de
conversa que tem a intenção de fugir depois de se imiscuir no significado.
Resolvi despejar o que recolhi
sem sentido aqui mesmo na areia da praia que sempre tem em prontidão o destino
de quem aparece em seu leito. Deixei ali o amontoado de inutilidades que minhas
mãos se dispuseram, sem precaução arrebanhar e fui tatear o que está sendo
selecionado por estas vozes que sussurram deixando sem audição o entendimento.
De outro lado olhei para
minhas mãos postas em receptáculo e percebi que de certo modo elas também
deixavam transparecer que acontece o peneiramento das ideias as quais eu queria
tanto reter. Me esforcei para arregimentar paciência de observação e encontrar
o ponto correto da separação e conseguir deixar o precioso argumento com cor e
forma diferente do que apareceu tão de repente. Parece-me que no dia de hoje
não tem vento que sopre a favor de nada deixando sem movimento tudo o que
possui um sopro de vida. Me conformei e deixei cair docemente o rabicho de um
pensamento qualquer. Escolhi a espuma do mar.
