quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Conversa


Já me preocupei muito com conversas, sendo um tema que deixa a  minha verve e o meu pensamento suspensos como se fossem ganchos grilhados na pele pendurados em pau de arara. Minha impressão é de sempre lá estar a catar a melhor  resposta,  o aparte  mais surpreendente  ou, pior, errar o colóquio, uma vez que estou tomada de pavor. E não é só o pavor que me acomete e sim uma preguiça feroz de participar, de ficar atenta, de dar tratos à bola e a massa cinzenta para juntar todos os cacos verborrágicos que me atravessam tal qual flechas predatórias do assunto.
Haja assunto nestes dias de hoje e, mesmo assim, quase sempre descambam para o mesmo tema, ditado pelas grandes mídias. Replicar se transformou em verbo imperativo seja o que isso signifique nos dias de hoje e a massa segue uníssona, com voz forte a derrapar em teus ouvidos.

Conversa sempre me pega em pendular burrice porque nunca sei como agir. Será que devo expressar o que eu realmente penso do assunto ou devo me calar e aguardar o que vem de lá para novamente rebater calada o que não  faz sentido ou o que não me enriquece.

Vai daí que sem querer eu descobri o segredo da conversa.
É aquela forma de se chegar perto do outro com um sorriso emoldurando a simples frase que até pode começar “como o dia está lindo” e melhor ainda se esta for dirigida a quem não tem o alfabeto na ponta da língua.

Na busca da interlocução atemporal vou seguindo com um bate papo sem compromisso a respeito das  chuvas fortes da noite anterior, esticando a prosa para comentar o que a cachorrada de rua anda aprontando e deste jeito bem natural vou construindo  uma fala perfeita.
No final do dia a mente está preenchida de conceitos e receitas de viver.

Em conversas bobas.

 

Uma rua

  Estanquei o passo ao me defrontar com aquela esquina, uma vez que ela tinha matizes diversos e contrastava com o que havia na minha memóri...