domingo, 28 de maio de 2023

Nudez

A verdejante natureza se traveste de nova coloração, talvez cansada da antecessora tonalidade alegórica, maciça e invasiva desde que o dia amanhece até os últimos raios do Rei Sol imperante e, quem sabe, revoltada com a aridez da terra resolveu descansar de tudo e vestir um entretom, sugerindo que os ventos serão gelados por um bom tempo e assim sua sensibilidade fica protegida através de uma nuança mais uniforme, estável e natural. A gradação sépia toma conta da paisagem na preamar, nos jardins e nas praças. 

Tempo pós-colorido pede maior estabilidade da terra em sua roupagem trazendo alívio que vem, inicialmente, da mudança na cor das ondas do mar engraçadamente concordante com a transformação, não resistindo à simplicidade dos argumentos da natureza que deseja descansar, desfolhando-se de sua espalhafatosa vestimenta que sombreia a estação mais quente do ano. 

E assim o galharedo de árvores e arbustos se reveste do seguro e sério tonalizante, deixando que suas folhas percam momentaneamente a vida para forrar as trilhas com a palheta de cores do outono e este modo ingressa nos lares e no espirito do conforto e simplicidade. 

A balada sofisticada do clima adentra o interior dos ambientes e revoluciona o dia a dia que, animado, se prepara para dias de mais quietude, de acalmação das ideias, quem sabe até não ter ideia nenhuma, esvaziando-se para que outro matiz tenha oportunidade de pintar o pensamento e pousar com suavidade na alma descolorida. 

Forma-se assim a estabilidade do vazio e do silêncio que se acerca do aconchego de uma poltrona, uma manta quentinha, um café fumegante e novas letras a serem inseridas no dia a dia de um período em que a natureza fica nua.

Uma rua

  Estanquei o passo ao me defrontar com aquela esquina, uma vez que ela tinha matizes diversos e contrastava com o que havia na minha memóri...