Eu não sei direito se este som
praticamente inaudível se encontra no meio da garganta prestes a nascer, se ele
apenas se escondeu dentro da minha cabeça e anda por aí comigo, pendurado de
orelha a orelha, não deixando que eu me dê conta desta invasão. Talvez por
conta deste sibilar ando pela rua rindo, em casa me rendo a sonoras gargalhadas
e assim vou do riso ao choro sempre na ânsia de completar o drama. 
Como sempre ouço vozes, as
minhas, as daqui e  as de lá, acredito
que esta verborragia da vida anda me emudecendo porque, vez ou outra, ensaia um
provérbio, uma canção, um elogio ou uma blasfêmia mas não consegue atingir a
sonoridade necessária para vir à baila, talvez porque pareça aos outros que
minha conversa não termina nunca, fato que eu posso concordar, afinal, me
esforço para que assim seja.
Estou observando o clima que
me arrodeia porque é sempre ele que engatilha o fio condutor do dia e logo cedo
já fico sabendo se o que está acontecendo vai me lavar em lágrimas, ou, ao
contrário, seca-las, se terei dificuldade para entender muito ou nada, se meus
passos me levarão aonde pretendo e não para o desconhecido ou se minha garganta
vai arder na febre da discórdia e da ignorância.
Estando eu neste impasse
resolvi não olhar para o lado escuro do dia e iniciei a tarefa muito fácil para
mim que resulta em perceber que todas as vozes diminuíram o tom, baixaram a
nota musical que atua como diapasão do falatório, subtraíram o microfone dos
tenores, surripiaram a batuta do maestro, afrouxaram a corda dos instrumentos,
quebraram as teclas da gaita e do piano e, por fim, furaram o couro do
pandeiro. Agora todos estamos no modo “murmúrio”.

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