segunda-feira, 3 de novembro de 2025

Murmúrio

 


Eu não sei direito se este som praticamente inaudível se encontra no meio da garganta prestes a nascer, se ele apenas se escondeu dentro da minha cabeça e anda por aí comigo, pendurado de orelha a orelha, não deixando que eu me dê conta desta invasão. Talvez por conta deste sibilar ando pela rua rindo, em casa me rendo a sonoras gargalhadas e assim vou do riso ao choro sempre na ânsia de completar o drama.

Como sempre ouço vozes, as minhas, as daqui e  as de lá, acredito que esta verborragia da vida anda me emudecendo porque, vez ou outra, ensaia um provérbio, uma canção, um elogio ou uma blasfêmia mas não consegue atingir a sonoridade necessária para vir à baila, talvez porque pareça aos outros que minha conversa não termina nunca, fato que eu posso concordar, afinal, me esforço para que assim seja.

Estou observando o clima que me arrodeia porque é sempre ele que engatilha o fio condutor do dia e logo cedo já fico sabendo se o que está acontecendo vai me lavar em lágrimas, ou, ao contrário, seca-las, se terei dificuldade para entender muito ou nada, se meus passos me levarão aonde pretendo e não para o desconhecido ou se minha garganta vai arder na febre da discórdia e da ignorância.

Estando eu neste impasse resolvi não olhar para o lado escuro do dia e iniciei a tarefa muito fácil para mim que resulta em perceber que todas as vozes diminuíram o tom, baixaram a nota musical que atua como diapasão do falatório, subtraíram o microfone dos tenores, surripiaram a batuta do maestro, afrouxaram a corda dos instrumentos, quebraram as teclas da gaita e do piano e, por fim, furaram o couro do pandeiro. Agora todos estamos no modo “murmúrio”.

 

 

 

 

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