sexta-feira, 21 de outubro de 2022

Sentei e esperei

 

Bem ao contrário do que imaginei ao me dirigir ao templo de areia sol e mar que me afronta com luminosidade todos os dias e mesmo havendo ameaça de quenturas do norte, os moradores da beira do mar estão quietos, escondidos até, eu diria, espreitando para ouvir e ver melhor se realmente os ventos amainaram, se as ondas deram uma recuada, se os predadores praianos estão ausentes, esta uma ameaça permanente quando se trata da chegada de alegres tempos quentes e ruidosos. 

No caminho vazio de tudo menos da natureza soberana não encontrei nenhum rastro importante que me fizesse enxergar que a vida marítima esteja se movimentando normalmente. Comecei a desconfiar de mim mesma uma vez que os pensamentos estavam voláteis e aéreos ficando mais difícil a cada passo prender no momento presente alguma ideia concreta. Melhor não me assustar diante da imensidão do mar e confiar em seus segredos. 

Chega então de esforço, vou acatar este espírito do tempo calado que se nega a dar uma pista de como será a próxima estação neste fim de mundo paradisíaco e assim determinada fui buscar dentro de mim alguma lembrança de passado recente a respeito do movimento diário das franjas do mar sempre tão bem frequentado pela bicharada. Foi com surpresa que nada encontrei, nenhuma gaveta da minha memória estava aberta, nenhuma linha escrita restava aparente. Girei os calcanhares e voltei a casa e me surpreendi ao perceber que todas as janelas e portas se encontravam fechadas, cortinas corridas e uma penumbra intimidante. Assustada desconfiei que pudesse ser apenas um desvio senil de imaginação. Sentei e esperei.

domingo, 16 de outubro de 2022

Um passeio diferente

Invernei com toda a pompa e circunstância que o clima praiano dos pampas me oferece e a ele me entreguei de corpo e alma sem delongas, sem perguntar, sem pedir licença, sem questionar se estava correto me entregar a este lado da vida em que tudo morre aparentemente. Apenas aparentemente. Desta decisão ao fato foi um pulo e deste jeito airoso me joguei para debaixo das mantas quentinhas, dos cachecóis, dos gorros, das pantufas, dos caldos quentes, do pão, do vinho, da massa, da pizza, do engorda voluntário. 

Imediatamente imaginei que a minha alma também teria um destino semelhante e quedaria quieta por um tempo, calada para perguntas, muda para respostas quaisquer além dos ouvidos moucos ao que se passa inefável por aí, com certo desdouro mais perto e inaudível a ouvidos senis mais longe. 

Cuidei para lacrar na minha mente toda e qualquer fresta que tivesse autonomia de entrar sem que eu permitisse e assim me fui de vento em pompa com o meu pensamento livre subindo e descendo novas escarpas, desbravando assuntos novos, lendo letras desconhecidas e encontrando almas gêmeas que considerei um presente desta hora em que invernei o meu espirito. 

Foi através deste caminho palmilhado pela busca do desconhecido que encontrei livros novos para ler e, mais do que isso, tirei a poeira da estante que carrego por toda minha vida como se fossem preciosidades e na verdade são. Não ouso tirá-los da minha vista, mesmo que os relegue muitas vezes ao ostracismo e eles já beirem o tom sépia pintado pelo tempo assim como eu. 

Depois de haver percorrido este caminho do tempo para frente e para trás encontrei muitos trechos dos meus livros grifados com firmeza me surpreendendo que estes destaques de 40 anos atrás continuem fazendo parte de mim, agora com trechos lavado em lágrimas.

Uma rua

  Estanquei o passo ao me defrontar com aquela esquina, uma vez que ela tinha matizes diversos e contrastava com o que havia na minha memóri...