quarta-feira, 1 de maio de 2024

Papelaria em dois tempos

 

Não sei quem me encontrou primeiro, se aquela papelaria antiga ou eu, que ando gastando a sola do sapato atrás de quinquilharias que lembrem o passado da escrita, do desenho, da caligrafia, enfim, elementos que fazem parte da recordação, atualmente.

Sempre que algo ruim me vem à cabeça penso logo na borracha de antigamente que era utilizada para apagar e corrigir uma grafia descuidada e acredito que  seja uma lembrança muito especial porque, como uma metáfora do fundo do baú, se pode fazer sumir o que aquele fato ou criatura  proporcionou . Nestes tempos de pensamento açodado a arma antiga se constitui em objeto curador do mau pensamento.

 A parafernália, mesmo em tempos bicudos de teclado, me acompanha com galhardia e olho aberto porque, todas elas – cadernos, lápis, borracha, blocos, papel de recado, caneta tinteiro, apontador, clips, grampeador, caneta esferográfica, régua, lápis de cor e cera, compasso - e mais o que a minha memória não alcança, nutrem a esperança de que todo dia eu vá buscar por seus serviços. E de fato assim é.

Ao utilizar as minhas companheiras de escrita desde que me conheço, sempre volto a uma época em que a vida passava em frente a mim como se fosse um compasso de música suave, momentos em que se levantava o olhar do caderno para apreciar um pio de passarinho, um gatinho por entre as mudas de flores, uma minhoca vagando por entre a grama perfeita da minha casa. Ao apreciar a natureza em seu ritmo primoroso a mente se acalma e se organiza voltando o olhar para a página em branco. Então, na sequência,  com outros elementos para a continuação da escrita e leitura entra em cena novamente a cadência do tempo, que não voa, ele acontece, minuto a minuto.

Papelaria em dois tempos

  Não sei quem me encontrou primeiro, se aquela papelaria antiga ou eu, que ando gastando a sola do sapato atrás de quinquilharias que lembr...