domingo, 20 de setembro de 2015

Surreal


Os ouvidos parecem não se cansar de ter de ouvir a conversa desavisada que sempre vem em momentos inesperados, quando se é arrastado para um caminho desconhecido ou quando quem fala conversa para si, como se quisesse afirmar a ele próprio aquela falta de tato, aquele mau gosto exasperado de contar o que não diz respeito a ninguém, nem a ele próprio.

O despreparo e a surpresa são sempre iguais porque parece impossível que a contagem de dados estúpidos seja derrubada boca afora sem filtro, sem tranca e sem pudor. O “ó” da boca entreaberta para pedir caluda fica no ar, a respiração passa a ser por ali uma vez que será difícil fechá-la tal o espanto desavergonhado de engolir um diálogo sobranceiro que envolve uma narrativa sem propósito de conteúdo.

Deve ser a sina de quem aprendeu a ouvir mais do que falar, a enxergar ao invés de ver, a sentir ao invés de demonstrar, a abster-se de opinar, a manter-se de lado no julgar do diálogo e a pensar com mais vagar.  Esta é a maldição à trava na língua e a incapacidade de fugir do mau assunto e relegar a massa cinzenta a remoeção dos dados enxertados à força pelo momento. Ser levado sem consulta e aviso prévio à intimidade de quem quer que seja, carece de sentido, demonstra falta de tato e gera um arrasto de impossibilidades no pretenso diálogo que, aliás, não acontece deveras.  


O término do solitário e surreal passeio verborrágico é singular e abrupto e assim se inicia o movimento pela retomada da linha enovelada inicial e, desta forma, todos os fios desencapados do raciocínio lógico se restauram como se fosse mágica. A cabeça se refresca, a musculatura se solta e a mente ensaia uma oração: que estes ventos letrados ao contrário não tenham mais tamanha envergadura no futuro e que não atinja quem prefere calar.

Uma rua

  Estanquei o passo ao me defrontar com aquela esquina, uma vez que ela tinha matizes diversos e contrastava com o que havia na minha memóri...