domingo, 5 de agosto de 2012

Pijama de seda


Ele me olhava sedutor, atirava em mim as bolinhas brancas das quais eu me furtava de rebater, mas era como um ímã, pois quanto mais ele me atraía com seu azul cobalto,  mais eu dava voltas no entorno e queria escapar.

Dava dó de vê-lo pendurado e descarnado.
Resolvi então que acharia funções deliciosas para ele em mim, a começar por poder  envergá-lo após o banho de domingo, já bem tarde, e depois a parada obrigatória na  rede  e a vista do mar flanando evasiva.

Arrumada como uma andarilha do descanso, vou repousar na maciez do tecido,  perambular por entre prateleiras revendo objetos, lustrando capas dos livros já velhas, ajeitando aqui e ali o lugar de descansar.
Vou escalar bolinha por bolinha e chegar até a altura dos ombros, ajeitar a gola generosa e aconchegante e dar uma espiada no tempo esticando a mão para fora da longa manga, para sentir de que lado o vento sopra, recolhendo em seguida  e dando meia volta com prazer à tarefa de fazer nada.

Na descida, uma soneca no bolso do casaco e em seguida resolvo me divertir escorregando bolinhas abaixo chegando até a barra da calça que ajeito para não tropeçar.
Após esta viagem, volto a mim preguiçosa, avoada e impotente para rejeitar os pensamentos sem destino que vem me assaltar, me assombram e se vão.


Melhor deixar pra lá e vestir aquele pijama de seda!

Uma rua

  Estanquei o passo ao me defrontar com aquela esquina, uma vez que ela tinha matizes diversos e contrastava com o que havia na minha memóri...