domingo, 28 de fevereiro de 2010

Parafusos soltos


Parafusos largados, perdidos na beira da estrada como se inúteis sempre fossem, são a surpresa do ciclista do asfalto.Topar com os metais que outrora tiveram serventia para formar alguma engrenagem importante, faz pensar. Eles são de vários tamanhos e enferrujados, alguns solitários, outros acompanhados de porcas enroscadas na sua estrutura. Feitos um para o outro.

Pode ter sido um elemento importante na segurança dos freios do carro e vou imaginando como esse veículo irá se comportar sem aquele suporte. Será que ficará como nós, que às vezes desenfreados tomamos decisões alopradas com falta de senso de comedimento que deveria nortear nossas atitudes? Aproveitamos que algo está errado na engrenagem e seguimos em frente patrolando tudo. Ao invés de fazer stop em cada esquina, seguimos em roleta russa da vida. Às vezes, é bem bom.

E se o parafuso for do tanque de gasolina e agora todo o combustível se foi e brecamos em qualquer capão? Penso que esta ferragem perdida é semelhante ao nosso estado de espírito ao nos sentirmos esvaziados de sentimentos em nossa alma, perdida e cansada de tantas tentativas. Ficar desprovida dos anseios, por um tempo, fará com que a renovação das emoções se transforme em outra aventura. Esvaziar-se, trará a cura, certamente.

Se o artefato participou da estrutura de prender os faróis na direção correta, já podemos prever que estas luzes não irão iluminar o caminho. Como o ser humano, que anda às escuras para aprender a se orientar, pois não há garantia de se conhecer todos as passagens. A luz irá se fazendo na opção da feitura do nosso destino. Luzes fabricadas pelo nosso desejo de chegar.

E se o objeto que agora jaz abandonado sofrendo dos ventos e fumaças de estradas intermináveis, era quem prendia o ar condicionado do veículo? Poderemos supor que agora vai circular sofrendo de todos os calores da natureza e de sua própria mente e corpo. Implacável e infernal, seguir a rota sem refrigeração.

Este componente, no entanto, não afeta mentes alertas que divagam prazerosamente por entre as situações da vida. Sempre condicionadas em apreciar a brisa, mesmo no sufoco, vêem saída.

Almas aquietadas vão fazendo o seu caminho com seus próprios ares.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Homens off


A galera masculina “off” é pra lá de inusitada, pois, pensam eles que já mataram o seu leão da vida.

Este cara é o avesso das mulheres do mesmo naipe que tem na liberdade e independência seu fundamento. Estar em sintonia com o universo, acalmar-se dentro do seu tempo, não é tarefa para esta turba.

Por ter encerrado as conquistas exigidas pela sociedade, orgulhoso traz na coleira esposa e filhos e uma vidinha enquadrada no dia a dia bem tradicional com familião no arresto. Preconceituoso e conservador, homens “off” tem vesgos olhos para a galera libertária.

Completos, os “off” seguem a vida sem olhar muito no entorno. A vida anda em ritmo ditado pela rotina imposta de sábados dedicados ao futebolzinho e cervejada com amigos. Esta agenda, é precedida de uma segunda feira de canastra, uma quarta de jantar de negócios e na sexta, ora, na sexta um happy hour com os colegas do escritório.

Sobrou o domingo que já começa com chimarrão em algum parque da cidade. Necessário levar os filhos na indiada. Na mira, almoço de familião providenciado pelas esposas, boas donas de casa, com barriga na pia e olhos para os quitutes que serão o deleite do macho, mas, também alvo de críticas, pois há que se controlar o peso. Enfim, com este homem não se tem saída.

Final de domingo, é claro, futebol na TV, Faustão e cerveja.

Dorme no sofá. Ninguém é de ferro.

Bom, pode haver exceções......

Homens on


Um olho aberto e outro fechado. Assim os homens “on” acordam no final de semana. De um lado, deixando o escritório e seus temas para trás e do outro, o despertar de um tempo só para si.

A vida se apresenta interessante e com momentos agradáveis para desfrutar junto à família e amigos. Talvez uma namorada. Não importa muito se ela ainda não existe. Está na espera e a caminho.

Desencanado, se espreguiça e levanta.

Com a “casa” afetiva arrumada e organizada, estes homens vão dando curso ao tempo, sem stress.

Uma visitinha matutina aos pais para colocar assuntos em dia, talvez pegar aquela camisa que ficou para consertar e entregar um ou outro mimo que ele tem certeza que vai agradar.

Despojado das gorduras que teimam em ensombrecer a circunferência de muitos outros homens, o “on” vai passar um tempinho na academia e depois um outro tempo ao ar livre.

Na cabeça, anotações de quais filmes quer assistir, e no bolso um rascunho do nome das obras que tomarão parte do seu tempo na folga.

Em ritmo lento e calculado, leva o carro para lavar, e, ao aguardar, atualiza novidades no Blackberry e rápida lida nos jornais.

Na seqüência, uma ida ao mercado.

Em passos comedidos e estômago mais ainda, criteriosa escolha dos alimentos que estarão na sua mesa de refeições do findi. Para beber, vinho branco e espumante, são os preferidos.

Aos domingos, conversas com amigos e uma esticada para happy hour em algum lugar bacana e tranqüilo, de preferência perto de onde mora, para poder ir e vir a pé.

Homens “on” gostam de atualizar e-mails e agenda no final do domingo e preparar a segunda feira.

Bom, pode haver exceções.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Conversas de praia



Impossível não me atirar a falar do verão gaúcho e das milhares de famílias que superlotam casas, apartamentos e o que mais houver.

Em qualquer classe social tudo fica “over” aqui onde o calor nunca é moderado. Não vem para aquecer nossas entranhas congeladas, nossas feições retorcidas e pele craquelada do inverno. Vem para nos torrar mesmo.

Neste ponto do Brasil, o sol nos devassa ultrapassando todos os níveis de exposição maléfica. A invasão das praias esquenta emoções distorce opiniões resultando em total falta de assunto relevante.

Tomei o cuidado de em minhas caminhadas, passar devagar pelos grupos, casais ou comadres para ouvir-lhes os assuntos.

Invariavelmente versavam sobre observações da rotina da casa superlotada e de, claro, críticas e falatórios de todos envolvidos num julgamento de tudo e de todos. Dos agregados, da vizinhança e que tais.

Fico pensando na satisfação humana em falar do outro em conversas sem fim e que não levam a caminho nenhum. Na praia, parece ser o assunto da hora.

Claro, gente empilhada no calor, entubada na cerveja e sol na moleira, só pode dar nisso.

Nos espaços pequenos, comuns na praia, se vê a mobília do lado de fora do apartamento uma vez que todos no mesmo espaço não caberiam.

Nas mansões as garagens e entorno são tão imensas para que possam demonstrar os tantos carros e o poder daquela família. As vezes, tudo penhorado, na mira da busca e apreensão. Mas, aparentar nestes núcleos é a ordem.

Enfim, o verão do sul demonstra muitas coisas. Nem todas bacanas. Mas quase todas hilárias, é verdade.

Verãozão no litoral norte.

Descombinações


Tudo combinado, nada feito.

Surpresas são constantes na agenda quando a mesma teima em ter vida própria e se revoltar contra você. Ou, dar-lhe uma lição pelo desejo da rotina impecável apontada como dardos certeiros no centro do mundo.

A organização pretende nos deixar tranqüilos no que há por vir no tempo. Curto ou longo, não importa.

E os acertos começam a cair um a um, mal começa a raiar o dia.

Uma chuva de manhã bem cedo vem te avisar que o “look” mudou e então, já começamos a se distrair do bom humor torcendo o nariz para o imprevisto que atrasa tudo. Mas aprendi a sempre pensar que uma chuva pode transformar o dia num delicioso tempo para reflexão e tarefas mais contidas. É só pensar que vamos encontrar a natureza indomável nas nossas tarefas, nos libertando.

Como o dia inicia alterando tudo o que foi pensado, já tenho medo de pensar no próximo passo que poderá ser derrubado pelo universo.

Então vamos ao embate do desconhecido largando mão de todo pensamento que precede os acontecimentos. Penso no tempo fluindo, abrindo novos caminhos e novos amores, para que possamos mudar de fato tudo a que estamos presos.

O bom e o ruim deve nos ser arrancado para enxergarmos em perspectiva as possibilidades múltiplas de nossa vida. Presos na realidade não temos tempo de enxergar mais longe.

Só um basta na arrumação da mente vai te jogar no incerto.

Risco em perspectiva, apenas.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Combinações


Sou feita de combinações. Das mais diversas. Nas simples, complico mesmo para ficar mais divertido.

Eventos simples e corriqueiros tem novo sabor se recebe o carinho e a atenção de ajustes bem feitos combinando todas as pontas em alegria imaginativa sobre o que virá.

Funciona muito bem no amor quando estamos aguardando o encontro, coração acelerado e olhos muito vivos. Na mente, a imagem do outro, e sem dúvida, vamos tendo o amor ao alcance das mãos, antecipando o abraço, o beijo e matando a saudade muito antes de tê-lo pela frente.

É nesta hora em que se planeja cada passo, vem tudo à mente e os sentidos do corpo vão se alterando, começando pela saliva, inquieta e abundante, à espera de terminar com a ânsia dos carinhos.

A vida fica cheia de surpresas ao resolvermos cantá-la, ao pedaços, em pequenos convênios, detalhando um pouco os próximos passos.

O que seria de cada tarefa se não nos preparássemos com cuidado para curtir com prazer a iniciativa.

Meus pensamentos são sempre combinativos, engatando uma tarefa na outra em seqüência, muitas vezes desnecessária, mas excitante por si só.

Antecipar-se é colocar em sonhos a expectativa de tudo.

Para mim, é viver duas vezes.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Códigos


Passei minha infância na Praia de Torres, de onde tenho as mais gratas lembranças de família, de mar e de criança. Minha casa de hoje na praia rescende a cheiros de outrora e também de acontecimentos que em todo momento me fazem voltar tão para trás que fico pensando em que vida me encontro.

Acho que em outra vida, já.

Muitas vezes tonteio tal a força da lembrança e vai daí que me lembrei dos códigos.

Em Torres, tínhamos uma casa de frente para o mar com varandão e a maresia acompanhava meu nariz em todas as cenas.

Os códigos começaram quando algumas crianças passavam de bicicleta pela nossa calçada e eram atingidas pela água de nossas “bixiguinhas” travessas. Claro que pararam as corridas por ali e a partir deste tempo nossas correrias na quadra era de todas juntas. Código aceito, turminha formada para o resto da vida.

Minha mãe nos deixava ir ao mar de tardezinha e estabeleceu um código: ao pendurar uma toalha branca na varanda, tínhamos que voltar. Eu, magrelinha, nem havia entrado no mar já me via louca de frio e de olho na toalha para poder retornar. Engraçado, para mim, estar refugiada, alguém me chamar, voltar para meu canto já era fundamental.

Liberdade vigiada, diríamos hoje. Até hoje eu a pratico de mim para mim.

Mas os códigos continuaram também acontecendo, mais não seja por ser dada a delírios e inspirações tomando gosto pela surpresa, pela aventura, para o desafio de me deixar ir destemperada, para depois voltar.

Pois é um código moderno, o SMS, quem vive me surpreendendo. Apenas um “plin” e sempre lá está uma mensagem curta e significativa que me faz voar para algum lado. No pensamento, na resposta criativa ou numa viagem, me jogo do “plin” para um caminho divertido e lúdico que reforça minha tendência de arriscar.

O e-mail acompanha de fato estas viradas, no susto e na expectativa de receber aquele aviso, aquele pensamento, aquele “alô” do distante que aproxima tanto, criando laços reais na confissão dos mais diversos sentimentos. A caixa reveladora de tudo. Dos mistérios às mais irrelevantes conversas.

E de surpresa em surpresa, aqui na minha praia de agora, uma vizinha me joga um código tão meu conhecido ao me dizer que em breve, após estar instalada em sua casa, colocará uma toalha azul na varanda, avisando que ela já está a minha espera, para uma conversa, um chimarrão. Só poderia acontecer comigo esta alegria de reviver, mais uma vez, um código infantil.

Presto muita atenção no detalhe.

São códigos imperdíveis!

Uma rua

  Estanquei o passo ao me defrontar com aquela esquina, uma vez que ela tinha matizes diversos e contrastava com o que havia na minha memóri...