domingo, 25 de abril de 2010

Pensar



Uma força surpreendente dentro de nós este pensar.

Constante e sem direção, quase sempre ele é quem comanda, mesmo que não queiramos. Toda a sorte de assuntos vão nos assaltando e ficamos impotentes frente à massa encefálica, poderosa dona de nossas idéias e destino.

Nossa vida toda controlada perde toda a empáfia ao se defrontar com nossa concentração de idéias encadeadas ou não, de todo dia.

Parece que temos o domínio da razão mas somos ingênuos em pensar assim, afinal, o nosso pensamento não tem dono e anda louco por aí com toda a sorte de assuntos, por conta própria. Livre, aparentemente sem senhorio, faz estripulias nas direções mais incertas. Ele tem o leme e nós somos apenas passageiros sem rumo.

Apesar de tentarmos sempre o contrário.

Podemos estar em uma festa repleta de familiares e amigos em alegre confraternização e nossa mente vaga como alma penada querendo estar em outro lugar, com pessoas diferentes, sorrisos mais amorosos, discussões mais profícuas. Enfim, nosso espectro está presente porém o eu completo se encontra assombrado, em outro lugar.

Tudo isso nossa mente é quem faz sozinha, diga-se de passagem. Se nosso espírito anda vagando por aí, enfermo ou não, podes ter certeza que tem o dedinho do pensamento que reina absoluto.

Comando em ação eu o chamaria porque dele pode vir nossa alegria e nossa tristeza agindo como um burro embretado na estrada, teimando em não ir por ali.

Em um rumor obscuro ele te diz: vem por aqui

Uma tentação.

Pelo menos


Ao ouvir a expressão pelo menos já me aprumo em orelhas porque de lá não vem boa coisa. Para mim é nada, uma vez que estão diminuindo a oferta. Se for de carinho e de amor, já viu. Racionada a porção.

E me vou aos pensamentos num frenesi tentando imaginar o que pode ser tão bom que valha tirar um pouco do significado, do volume ou da constância.

Se a proposta for de uma negociação comercial, já vamos sabendo que não seremos providos de tudo e sim de um pouco da importância. Ou, talvez, um prazo estendido que não nos favorece, absolutamente. Ou, acreditem, da honra que nos é conferida se aceitarmos aquele trabalho. Pelo menos. Podem ter certeza que quanto a nossa contrapartida teremos que dar tudo.

Se o amor que recém chegou ao seu coração, é uma alma interditada pelo destino, ou pela conveniência, lhe diz não poder desfrutar da vida plena com você, prepare-se pra ouvir um sonoro pelo menos com desvairadas alternativas jogadas como forma de compensação.

Bom, ninguém pode dar o que não tem.

A expressão é ruim mesmo. Nos dá a sensação de que venha o que vier, vem pela metade. Nos esvazia a alma ao ouvir seu som ou sua escrita. Estabelece no rosto, um riso inverso.

Pelos menos, para mim, é nada, uma vez que eu penso sempre em tudo, ou muito ou no que eu realmente mereço.

sábado, 24 de abril de 2010

Bem capaz


Expressão danada de boa essa que me veio à mente numa manhã fria de outono. Sei lá porque me deparei a dizê-la em alta voz. Nem comecei a viver meu dia..porque ela me veio?

As expressões que nos vem de súbito e ditamos fora de regra são serventia da casa, e as cenas do dia vão despertando lembranças e conseguimos, num salto, resolver pendengas. Da alma, da existência, enfim, do entorno.

Como a passagem rápida por aquele casal enamorado que se delicia em juras de amor num banco da praça, todo dia, faça chuva ou sol, lá estão eles.

Obviamente vais lembrar do teu “ex”, aquele cachorrão que te levou aos céus e aos infernos ao mesmo tempo e desta feita execrar o amor sofrido é a tendência e soltamos um “bem capaz”!!!! Não voltarei a viver novamente às cegas.

E dali, não paramos mais de lembrar tudo o que não precisamos mais praticar e se abrem as cortinas das possibilidades da vida.

Bem capaz que vou acordar cedo para malhar.

Bem capaz que deixarei de malhar cedo.

Bem capaz que vou perder a alvura dos dentes com o café.

Bem capaz que vou deixar de tomar café.

Bem capaz que vou emagrecer só porque está na moda.

Bem capaz que vou estragar minha saúde engordando demais.

Bem capaz que volto àquele lugar.

Bem capaz que não vou estar lá.

Bem capaz que volto pra ele.

Bem capaz que não o darei ouvidos.

Bem capaz que vou sair neste dia lindo.

Bem capaz que vou ficar em casa neste dia lindo.

Bem capaz que vou namorar de novo.

Bem capaz que vou deixar de namorar de novo.

Bem capaz que falarei com ele novamente.

Bem capaz que vou deixar assim.

E desdobram-se assim mil possibilidades de se viver todo dia.

Aproveite!

Realidade


A realidade me chama a toda hora mas nem toda hora quero vê-la, sequer conversar.

São muitos os assuntos e ela me puxa as orelhas desta vez e é sentindo o bafão na nuca dos fatos em revista, que me lanço no alfabeto.

Tomara que ele me ajude a exorcizar esta missão de letras compostas que poderão me maldizer por aí.

São histórias acenadas por tantos como eu metidos a confinar em verbos suas opiniões. Não será diferente comigo e então, vamos lá ver o que estas mulheres estão me assoprando sem parar.

Mulheres limitadas em um só ideal e este parece, terá de ser para sempre. Ou quase. Não são poucas as que vejo sem um horizonte diferente do seu par não conseguindo se enxergar sozinha sem o distinto. E este, ai meu deus, pode ser qualquer um. Melhor que seja, pois assim não precisará pensar em fugir, nem vislumbrar novas cenas, acontecimentos inesperados, contornos jamais vistos.

Preferível ser um “imediato” em prontidão buscando alhures todas as desculpas que consolidam sua frágil confiança, servindo apenas para responder a si mesmas. Um ofuscamento em dupla pode solapar uma vida. Ou muitas.

Sem liberdade de ser única. Ser de si para si.

As mulheres são as tais para levar um conjunto no arresto, mesmo que não pareça de imediato que este seja o ideal. Não tem porem, o gênero feminino é da luta do grupo, é da ânsia do ter todos em um, mesmo que o apinhado não seja dos mais ditosos. Não importa se é bom ou ruim. É o que elas têm. E isso basta.

Muitas mulheres são famintas do alimento que as empobrece.

A dor


Não vivemos sem dor e eu acredito que as dores são do bem.

Mais não seja....

A dor pode ser bacana se estiver concentrada num procedimento de beleza. Depois disso estarei bela em forma ou sei lá o quê mais. Tudo se faz pela dor do belo.

Também o treino dos músculos como se fossemos trabalhar no porto carregando navios, nos deixa acabadas, é uma dor bem quista. Previne doenças, te deixa forte e ágil.

Uma guria.

Na cabeleira, a chapinha fervente te pela o couro cabeludo, mas depois da dor, madeixas lisas esvoaçantes são o desvario das hordas femininas escravas da moda.

Nos pés, saltos altíssimos equilibram o corpo mas não o cérebro, que aliás não consegue ponderar nada naquelas alturas. Bom, nem é preciso do pensamento uma vez que nesta hora a figura é que conta. Também não preciso das falas, apenas das panturilhas malhadas e dos dentes impecáveis clareados a laser. Imagem é tudo!

No corpicho a roupa mais apertada. O jeans deverá servir somente se a dita fechar o zíper deitada. Deste jeito está ótimo. Se não, tá fora. Vale uma legging maldita demonstrando a todos as curvas nem sempre bacanas das moças. E lá vamos nós assistir o desfile que não nos apetece.

A dor traz felicidade. Pois não é?

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Embaralhada


Todo dia é todo dia.

Um embaralho que começa cedo, uma vez que temos que colocar a cabeça pensante em atividade, em todos os sentidos. O vazio se instala imitando uma maquina nova cheia de programas que precisam ser formatados. Nesta hora eu sou a banda desterrada do universo, sem neurônios, sem conexão presente nem futura.

Assim começo meu dia.

Gestos desencontrados, passadas tontas e o esforço para manter o equilíbrio pela casa é minha ordem caótica. Me parece à primeira vista, que estou longe de me organizar.

Sigo em círculos sem pensar em nada. Não lembro de quem amei ontem, nem se meu corpo precisou ou recebeu algum alimento. As falas estão vagas numa penumbra invasiva difícil de dissipar. Somente pressinto o que vem por aí, mas não me esforço para saber como vem, nem o que foi decidido.

Minha biografia não tem comando, segue impávida na teimosia em sobreviver a qualquer custo.

Resolvo encarar a paisagem que se transforma na medida em que meus pensamentos vagueiam. Ela é sempre a mesma e sempre me aparece diferente com diversos matizes em preto e branco rebrilhando em cores, muitas vezes.

Como eu, sou sempre a mesma e sempre outra.

Minha alma já saiu de mim nesta hora e me encontro em outra vida.

Uma das tantas que escolho todo dia para viver.

domingo, 18 de abril de 2010

Palavras


Inócuas, muitas vezes, mas sempre tão o tom. A nuance de todas ditas ensombrece ou ilumina nossa intenção ao proferi-las.

O som do vocábulo nos impulsiona a buscar na inteligência significados, para explicar, esclarecer ou contar alguma coisa.

Uma questão de sobrevivência abrir o verbo e largar em tantas direções. Lá se vão aos gorgulhos bafejar o ouvido de alguém ou ferir os olhos aflitos que conferem um texto.

Próximos ou distantes o alvo da nossa expressão será atingido. Podem ser letrinhas primorosamente digitadas ou falas arrancadas de lábios amorosos ou raivosos, todas tem destino certo.

Comunicar é a nossa intenção.

Mas, as palavras se confundem no meio das emoções que podem ser desencontradas, inadequadas para o momento ou simplesmente, sem valor a quem vá ouvir ou ler.

Podem ser difíceis de serem entendidas, e nossa intenção vira conversa de louco, um dizendo uma coisa e outro entendendo outra.

Um vai e vem de emoções e letras que se desencontram e saltam em todas as direções como dardos ferinos.

Ferimentos de palavras são incuráveis.

Você disse.

Cegueira


Ficamos cegos de raiva ou de amor. Extremos da visão e do afeto que nos impossibilita enxergarmos o que está em frente.Não é prerrogativa de uns e outros.
É de todo mundo.

Levantamos a cabeça para olhar o que nos passa na frente e só vemos o que se passa em nossa alma. O alheio continuará escondido uma vez que no excesso vemos a nós mesmos.

Esta ausência de entender vai arrastando corações ao abismo. Ao fundo do nada, sem esperança de retorno.

E seguimos desvairados pela ausência de convicção e coragem de ver o que vem do outro.

Blindados para olhar o novo, lambidos pelo passado ruidoso desmoronando no presente.

Justo agora.

domingo, 11 de abril de 2010

Arrumação


Vem de longe a mania de arrumar. A cabeça e a casa. Às vezes se organiza uma e não outra. Outras tantas, as duas ficam a ver navios na acomodação. Não tem forma de se ajeitar. Tudo embolado.

Mas, um dia, normal como todos, amanhece diferente. No ar um céu limpo e a mente mais ainda.

E iniciamos, vagarosamente, a colocar as coisas em ordem.

Como se estivéssemos fora de controle vem tudo abaixo, mansamente. Pilhas de roupas não usadas que anseiam por terem utilidade, vestir um corpo pela pura satisfação do movimento e calor, um pouco de ar, afinal. Sair da massa de poeira em que se encontram, sempre junto a outras tantas que nem prazer lhe dá. Mais não seja pela textura do tecido ou das cores descombinadas.

A alegre algazarra do amontoado de sapatos nos fazem lembrar dos quantos caminhos percorridos através de suas solas. De tantas festas freqüentadas a gosto e desgosto e de tantos vôos para encontros de amor. De tantas sapatilhas jogadas ao ar, na hora de chegar a casa, feliz, depois de um dia de sucesso. Das botas emborrachadas que jazem mofadas de tantas chuvas que te protegeram. Caminhos de todos os dias, trilhados na mais perfeita sintonia de pés e cabeça.

Sapatos, botas, sandálias e chinelinhos, companhia que nos leva aonde a cabeça pede.

Assim também se amontoam nossos pensamentos mais escuros, que teimam em vir à tona para ensombrecer nosso dia de sol. Assim como nossas companhias, que em nada estão facilitando ou ajudando. Apenas dão sombra ao nosso viver. Do escuro para a claridade. Assim são feitos nossos segredos.

A organização termina ao nos darmos conta que ao separar e organizar nossas vestimentas e lembranças, nada ficou nebuloso. Uma a uma, elas vão sendo passadas, dobradas, empilhadas e guardadas. Assim, resolvemos também dar conta do recado em relação ao nosso afeto, nosso amor, nosso trabalho, nossa família, que se conectam, cúmplices. Cada passagem se estabelece no melhor recanto da memória.

Então, nossas experiências seguirão um destino “solo”, uma vez que as deixamos ir, libertas de nós mesmos.

Até quando?

Esperança


A esperança, sentido que nos dá a vida e o fazer, aponta para o possível. Mesmo no desânimo dos acontecimentos que teimam em desarrumar as passagens, a empedrar o solo e fazer saltar, a chegada aparece.

Nem sempre é o lugar correto. Muitas vezes, às cegas, as opções batem cabeça no ousado, no incerto, no trágico. E de tanto subir e descer, não se sabe se foi a esperança quem determinou ou se foi a teimosia.

Das escolhas, nem todas são verdadeiras.

O esperar acontece sempre que temos uma ânsia de saber, de ter ou de ir. E fugindo de nós mesmos, não queremos ver nossas escolhas mal reveladas.

Ir ao encalço de si, uma vez que todos os caminhos apontam para os outros.

O andar em frente é a lógica opção mesmo que queiramos andar para trás, rever situações, tropeçar ao contrário. A travessia é sempre um caminho sem volta e ele nunca mais será o mesmo depois de nosso acesso.

Ao levantarmos a poeira e os cascalhos do trajeto, ele se configura em nova alameda que se posta atrás de nós.

Outros trilharão sobre nossas passadas.

domingo, 4 de abril de 2010

Solidão entre tantos


Em grupos, amarrados entre si em um grande fardo, eles vão seguindo a vida. Parece que não podem viver sem estar juntos, mesmo que este amontoamento provoque uma fenda em si, um sofrimento, uma melancolia. Não saber para onde ir, de tanto andar para o mesmo lugar e com o mesmo eco, perdendo o pensamento próprio, a coragem e todas as oportunidades.

Assim é.

A solidão avassaladora de quem está sempre reunido em tantos. E de tanta conversa ao redor, sequer poder ouvir a si mesmo ou a voz sábia do isolamento que chama angustiada e premente de uma atenção.

Ficar só é fundamental para ver-se a si e, principalmente, aos outros.

A solidão animada e contente faz a farra na vida de quem a sabe conduzir. Os diálogos internos são intensos e proveitosos assim como toda companhia vem e passa, deixando um rastro de ensinamentos e muitas idéias a serem pensadas.

Criar laços profundos e perceptivos com nossa essência faz o caminho de quem pensa, um destino construído.

Olhos da alma


Os olhos são a janela da alma, mas evitamos o olhar profundo a todos que encontramos. Flutuamos entre pessoas não nos detendo em quem quer nos dizer algo, olhares de longe que nos querem chegar mais perto.

O olhar de todo dia vaga insólito pela vida e o desvio do encontro acontece por ali, quando nos furtamos de admirar.

O globo ocular é uma câmera ambulante, nada camuflada, feita de tantas cores quantas possam existir. Vagueamos aqui e ali, borboleteando por mil coisas em um passeio absurdo não aproveitado, porque de tantos matizes e vidas podemos nos alimentar através do olhar.

O enxergar à dentro pode nos revelar sentimentos, desejos e também perceber frustrações e anseios não revelados, ou pouco entendidos.

Os olhos, em muda sintonia, dizem o que a alma grita.

Temos a alternativa de não receber a mensagem quieta mas intensa de um olhar avassalador de ódio, de indiferença ou de amor. É só desviarmos da patrola nômade e seguir o caminho.

Um olhar para dentro de nossas entranhas podem ser salvadoras pois detém todos os nossos segredos e é delas que virão as respostas.

Os olhos da alma nos fazem ver quem somos, quem queremos ser, como vamos amar ou deixar de lado. Não tem distância para quem merece ser visto no nosso anseio de chegar mais perto, consentindo com a boa companhia. Ou do bom amor.

É no pensamento distraído que refletimos uma a uma as imagens do que desejamos e amamos. Tudo se torna real e possível no imaginário.

O olhar nos persegue para dentro e para fora.

Silêncio


Cada vez mais os sons da vida normal atormentam. Me parece que fui feita para morar no silêncio. Que só com ele em minha companhia consigo alcançar a algazarra dos outros. Desde sempre me conheço deste jeito.

Se prestarmos atenção nos sons do dia a dia e nos milhares de tons de voz que pairam ao nosso redor, ensurdeceríamos facilmente.

A alternativa é não ouvir.

E assim acontece uma vez que de tanta conferência audível, vamos ouvindo somente o que queremos. Ou o que dizemos. No entorno, sons e vozes ficam imperceptíveis, barrados pela prepotência de quem se quer fazer ouvir. Da rouca garganta às estridentes falas de pessoas que não tem o silêncio como conselheiro, ou, quem sabe, aliado.

E fica a disposição de se ir mais longe onde o ruído vem do mar, dos pássaros e da natureza.

Meu capricho é baixar o som da vida e escutar os fantasmas que mansamente vem me visitar. Em baixos decibéis que apenas eu possa ouvir.

Como convém a uma alma maluca.

Uma rua

  Estanquei o passo ao me defrontar com aquela esquina, uma vez que ela tinha matizes diversos e contrastava com o que havia na minha memóri...