quinta-feira, 25 de novembro de 2021

70 + 1

  

O numeral resolveu me acompanhar de perto agora que ando somada e cercada por números de todos os formatos, design e sonoridade parecendo que eles capricham ao me abordar por justamente saberem que são importantes neste contar disfarçado que realizo todos os dias me divertindo muito, uma vez que manipulo à vontade a marcação diária fazendo com que se ajoelhem a mim, eles, ponteiros do dia que não me comandam e não me fazem assentir de maneira nenhuma às suas marcações. 

Agora, os 70 passado - tão afamado e incensado – resolveu por força do andar da carruagem do tempo vir acompanhado de mais um, e deste jeito passo a analisar todas as novidades que ele trouxe em seu bojo para verificar se de verdade andou, se rastejou, se acomodou ou se veio sôfrego para alcançar a meta da soma. Abstive-me de tentar trair a torcida que eu repetiria os 70 porque achei que ele veio com muita calma e beleza e me deu alegria, olhei novamente para esta idade que me deixou brejeira por um dia, mas me dei conta que nem no papel eu poderia trair a mim mesma e então decidi fazer a soma. São mesmo “70 + 1”. 

O “70 + 1” escolheu o oceano para vivenciar o dia a dia que se adicionava, não se afastando nem um milímetro desta natureza profunda que, muito pródiga, acatou todos meus pensamentos e minhas falas solitárias assim como recebeu de bom grado as minhas lágrimas, que, de certo modo, tem vida própria indo e vindo ao sabor da vida que acontece por dentro, por fora e ao redor da minha alma. Além delas as conversas de si para si que acontecem no pé ante pé das manhãs, no areiame que, em conjunto com o som bravio do mar arrefece arroubos acontecendo o orquestramento das historias mal contadas. Cheguei ao final somado respeitando minha promessa de a partir daquele ano atrás, tudo se acomodaria em um lindo colorido da cor do mar.

quinta-feira, 18 de novembro de 2021

Outra janela

 

Eu não lembrava se havia uma janela que eu pudesse abrir e assim vislumbrar o mundo lá fora em que as nuances climáticas, urbanas, rurais e marítimas estivessem a postos apenas para que eu pudesse escolher o que enxergar e não me deparar com esta névoa constante que suponho esteja dentro de mim como uma forma de me proteger dos melindres do tempo passando, das folhas caindo, do sobe e desce das marés, do vento intermitente e das chuvas que brincam de esconde-esconde com o clima. 

Pode ser também que o meu anjo da guarda se cansou e se acomodou fechando a veneziana e a escondendo atrás da cortina com a esperança que eu não me desse conta que sempre há uma forma de enxergar o mundo em recantos escondidos, em uma perspectiva de luz e sombra inusitada, através de um vento ao contrário e de um passeio das nuvens mais baixas com o intuito de aterrorizar o campo. 

Ao aventar tal possibilidade resolvi procurar esta janela que poderia estar por aqui e que me foi escondida - talvez até mesmo por mim - cansada de olhar sempre para o mesmo lado e enxergar sempre as mesmas coisas. 

Com muito cuidado corri a pesada cortina que por incrível que pareça se confundia com a parede da sala e descobri por ali que com apenas um empurrão delicado se descortinava uma paisagem ainda incógnita para mim e com muita pressa descortinei aquele recanto novo e fui verificar se persistia a névoa no entorno. 

O que surgiu a mim foi uma ampla janela que descortinava um mundo à parte, onde a claridade quase me cegava e o ar reinava em paz absoluta sem que uma folha se mexesse e todos os componentes do meio da rua se achavam criteriosamente colocados onde sempre estiveram. Havia ausência de ventos, de chuvas e de andares de pessoas. Parecia um retrato colorido de uma paisagem qualquer capturada por uma máquina de fotografia instantânea, eternizando o momento único de paz absoluta. Com muito cuidado fechei a janela e corri de volta a cortina para que esta imagem encantadora ficasse a alimentar minha alma.

Uma rua

  Estanquei o passo ao me defrontar com aquela esquina, uma vez que ela tinha matizes diversos e contrastava com o que havia na minha memóri...