domingo, 29 de agosto de 2010

É lá




Nunca pensei que haveria de encontrar lugar tão perfeito, um canto tão a minha cara e na minha mente, mesmo vazio, cheio de expectativas encantadoras para viver.


E também, morrer.



Em manhã luminosa, saboreando um café diante da paisagem, a respiração fraca e um tanto suspensa, os braços perdem forças se alongando junto ao corpo e, ao mesmo tempo, meu olhar enevoado se fecha para o mundo.

Quem sabe ao deitar-me com o barulho das ondas ao fundo, não consiga nem acordar porque meus anjos, na calada da noite, vieram me avisar que estava na hora de fazer aquela viagem com hora marcada para todos, mas nunca sabemos quando será.

Talvez, na tardinha sentada em frente à natureza, sorvendo um vinho, eu feche os olhos para apreciar o momento, e não os abra mais.

Poderá ser também um momento criativo, com meus dedos batendo vigorosamente as teclas do meu computador quando, num repente de sono tardio e estranho, me deixo encostar a cabeça nos braços, e, na seqüência, não mais a levante.

A poltrona da leitura poderá ser a última testemunha. Ao abraçar meu corpo cansado, resolve que seria esta hora, a derradeira. Docemente caio num sono profundo e me vou para o outro lado.

Opções de uma partida serena.

domingo, 22 de agosto de 2010

Passeio da graça


Passadas leves, olhos atentos e mente em ritmo retrógrado fazem das sextas feiras a delicia do andar sem compromisso. As calçadas preferidas são as do bairro mais charmoso e afável da cidade.

Muita coisa para se ver com longos olhares de quem tem preguiça de movimentar-se, porque, com certeza, vamos perder alguma coisa, ou tudo, de bom. A regra é flutuar por entre as tantas novidades, do jeito que a vida é.

Nunca tenho pressa nesta voltinha que me leva a recantos que se abrem para a calçada, em convite imperdível para circular em coloridos que se entrelaçam combinando e descombinando ruas e passeios.

Enfeitiçada pelo tapete vermelho, já na entrada fico grandona e elegante, de frente ao espelho que surge nem sei bem de onde, que me reflete e seduz me aproximando da experiência de sentir-me única, percebendo que esta é a abertura e que é ela mesma quem fará toda a diferença, nesta hora.

Na vitrine, texturas se movimentam em cores e vestem mulheres que parecem saltar em direção ao caminho. Chamada geral e atenção redobrada pois um mundo novo foi criado, para moldar todas as cinturas, alongar algumas pernas encurtando outras, expor e esconder os vários colos valorizando todos os estilos numa sutil sugestão de que é chegada a hora de um comportamento diferente se instalar.

Os modelos em seda, lãs e linhos de muitas tonalidades se enfileiram e aguardam que lhe venham dar vida com a simples intenção de traçar uma história de movimento, de singelas perambulagens, de ares e clima.Deve ser este o arrebatamento do Passeio da Graça.

Vestir-se e ir às ruas, encantar-se e encantar.

domingo, 15 de agosto de 2010

Condutor



Deslizar e tropeçar em caminhos, às vezes falsos, porque de tão perdidos, não há vista boa a se enxergar. Não é uma empreitada fácil, mas se temos um fio condutor, sempre ajuda.

Vale aquela conversa que começa sem nenhum propósito, apenas para dar um pouco de vida a quem gosta de se comunicar da maneira mais antiga, exercitando todas as possibilidades de vocábulos, viajando na sua significação ou até, escorregando em metáforas um pouco fora de questão ou propósito.

Vale tudo para se achar respostas a rumores maléficos, a buscar o entendimento de vias complexas e não morrer de vergonha pela impotência.

Vale demais exagerar e romper em brados indignados pela justa causa buscando a linha que se ausenta quando se mais precisa dela.

Vale pensar em se apoiar, em pedir ajuda para melhorar o equilíbrio do julgamento e não desandar nos fatos super dimensionados.

Vale a pena entabular um delicioso diálogo de cocheira, entremeado de perguntas que se pensa não ter resposta e ouvir a voz, do outro lado, sintonizar o dial e acompanhar teu pensamento.

Vale um tanto saber que sempre existe uma saída, uma linha de força autorizada a dar seu melhor aval para todos os assuntos ou quase todos.

Um condutor é mágico deixando o livre pensar evoluir tomando um formato inédito e próprio apaziguando mentes ansiosas.

Um pensamento elevado a quem gosta de conversar.

Vampiro


Está na moda o vampiro e não sei se é por conta desta novidade que agora ando enxergando os ditos cujos por aí a sugarem todo tipo de coisa. Do sangue da vítima à paciência que não existe mais como sendo a “de Jó”.

Sugar parece muito moderno e tudo vai andando neste compasso.

Nem nos damos conta do tanto de exaustos ficamos após um dia de trabalho que aparentemente foi um sucesso, mas no fim e ao cabo, nos vemos como um ser esquálido tentando reencarnar a nós mesmos.

A vampiragem corre solta sem rédeas tal qual um alasão, em plena forma, correndo em campos abertos. Difícil é segurar a energia sugadora e transformá-la em potencial energético que nos estimule a fazer, simplesmente, o bem e o melhor.

Todo nosso ser de carne e osso busca com desespero maior sapiência porque estamos, por hora, condenados a vagar em outra dimensão com a fragilidade da energia que as situações vampirescas nos colocam.

Rôtos de corpo com idéias à míngua. Um sopro de inteligência e damos cabo do maldito.

Uma rua

  Estanquei o passo ao me defrontar com aquela esquina, uma vez que ela tinha matizes diversos e contrastava com o que havia na minha memóri...