A sarjeta que acompanha a
calçada por aqui parece um jardim de macega por estar situada em um lugar de
pouco movimento assim favorecendo a vinda de algumas mudas oriundas da serra.
Este capim da montanha, de várias espécies e cor, um belo dia resolve que é
chegada a hora de descer até o mar que ele vislumbra do alto do monte
enfileirado e que serve como marcação entre o litoral e a área rural. São os dois
que mantém uma conversa de compadre.
Alguns amigos entre folhas,
flores e raízes se uniram e foram descendo pelo córrego principal que se
arrasta até o mar escolhendo um dia de grande fluxo d’agua pois assim o empuxo
seria mais divertido, mesmo correndo o risco de perder alguns pedaços, algumas
folhas e pétalas, mas eles sabiam que fazia parte da aventura fincar pé em
algum bueiro, um cano entupido de areia, um tronco de árvore desgarrado podendo
assim se abrigar ou renascer. Já ficavam imaginando quanto boa seria a vida
nesta sarjeta de praia fora de temporada.
E aconteceu como os capins da
serra planejaram e, uns aqui e outros ali se acomodaram no solo que os recebeu
de bom grado avisando que esta morada seria por pouco tempo o que não lhes
causou preocupação. Eles sabem que a vida do capim é efêmera e foi por este
motivo que aventurar-se e se extinguir perto do mar havia sido uma boa ideia.
O córrego descia com força
saltando por entre as pedras, as plantas características da beirada, empurrando
os troncos maiores, cortando sem dó os galhos incautos que se dobraram para
enxergar melhor o fenômeno e assim desceram lindamente, água e seus amigos da
encosta se deixando levar até o mar. Em meio a este tumulto da natureza depois
de uma boa chuva surgiu um barquinho de papel jornal que seguia firme, deixando
em destaque algumas manchetes antigas que carregava a verdade impressa em
palavras.

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