domingo, 24 de abril de 2011

Benevolente



A força do olhar embrulha o beiço que surgiu não se sabe de onde. Mas está ali encarando a tua benevolência em tudo aceitar, pisando em ovos, por saber que o campo é minado.

Não tem lugar seguro neste território que ensombrece as intenções, arrasando o consertado, criando mais uma vala entre uns.

E por ali, de tanto em tanto, os espinhos são retirados com presteza antes que se aprofunde o veneno e se estabeleça uma realidade forjada, construída pelo desejo de simplesmente não se ter olhos ao outro. O olhar lança dardos, fustiga o coração e maldosamente sai vencedor.

Por ora é o que se apresenta.

Não é reconhecida, no entanto, a resistência heróica de sobrevivência que se opõe ao risco, que se nega a compartilhar da verve peçonhenta. Apenas escuta e observa. E faz seu caminho ao lado do infortúnio, lhe acompanhando as passadas, numa senda impossível.

Não tarda o retorno na vereda.

domingo, 10 de abril de 2011

Assuntos



Cheia de assunto vergo minhas falas com sofreguidão apenas encontrando um eco ao longe, desinteressado e ausente do conteúdo a que me proponho, me parecendo com nitidez, que minha cabeça esbraveja solitária.

Houve um tempo, que até parece outra vida, onde as palavras eram o mote principal de encontros, e a ira e a audácia caminhavam em cabeçadas uníssonas, sempre se fazendo acompanhar pela risada espontânea, pela ironia inteligente, pela graça de propor e pela alegria de simplesmente estar.

Nunca desisto de procurar uma chance de enxergar nas caraminholas insistentes, aquele achaque que me bafeja a testa e que me faz, airada, pensar.

Talvez tudo tenha se perdido nas areias da praia iluminadas pelo sol de outono, que agora recolhe ávida todo o brilho da natureza para si, uma vez que cansada de ser espezinhada e agredida por todo o tipo de pisante. Vai ver que os cascudos do mar, novos moradores, e as aves mais gordas estejam me ouvindo e pedindo silêncio ao meu interior barulhento.

Pode não parecer à primeira vista, mas desconfio que a insegurança e o medo eternizam o motivo do esconde-esconde, tais como os caranguejos que voltam para a beira do mar tranqüilos, pois chegou a hora de vagar para o lado e para trás.


Mesmo.

domingo, 3 de abril de 2011

Fuga



Eu jurava que todos estavam ali, ao alcance da minha vista, mas quando dei por mim, as hipóteses, os argumentos e minhas certezas se adonaram de si e sumiram. Ficou em mim uma certa vergonha por ter andado invasiva e sonhadora ao pensar assuntos.

Na minha conversalhada eu lembro bem de não ter perguntado nada, que me veio tudo de pronto, com as afirmativas se alinhando ao meu pensamento então sóbrio, tenso e incluso.

Muitos dos eventos foram se acumulando no decorrer do período sem que eu pudesse detê-los, talvez porque eu mesma não o quisesse ou porque me sentisse curiosa e animada. Dar um destino ao que me passa pela frente sem que eu peça. A sutileza aparente do celerado demonstra que não preciso procurar para acontecer.

E me vem à memória encontros estranhos, declarações suspeitas, intenções não declaradas. Mas o que mais me entorta a mente é a fuga. A saída da intenção do não ocorrido, a fala suspensa, o olhar que entrega a alma.

A animação não cessa mesmo depois de eu haver desistido. O silêncio se instala, a presença se evapora e a saudade persiste.

Os novos caminhos advém, sem culpa ou vergonha de existir, simplesmente.

Uma rua

  Estanquei o passo ao me defrontar com aquela esquina, uma vez que ela tinha matizes diversos e contrastava com o que havia na minha memóri...