domingo, 27 de setembro de 2009

Não te joga que não tem rede



Sonhar faz parte da vida e todos viemos acalentando um que outro, uns mais possíveis e outros nem tanto. Hoje em dia a maioria dos desejos versam sobre a propriedade, sobre o ter. O capitalismo arrasta o ser humano para valores efêmeros que de tanto dançarem frente aos nossos olhos, começamos já a pensar que não poderemos existir sem eles.

E então vamos seguindo no power point da vida, de quadrinho em quadrinho, aparecendo uma vez com mais letrinhas, outros com desenhos coloridos, às vezes quadros vazios, vão nos intervalando. Vidinha organizada em ritmo, com tarefas se desenrolando vez por vez, dando conta que estamos no caminho certo.

Mas não estamos aqui pra gerar moleza não. Aqui estamos para viver e isso significa se deparar sempre com o novo e o extraordinário. E acontecimentos inesperados sempre acontecem e eles vêm para te tirar do caminho e mostrar alternativas de vida. Nem sempre vem tão de mansinho podendo muitas vezes trazer o passado com todos os sentimentos que envolviam a questão e as pessoas.

Sem fôlego para suportar o fantasma do passado escorregamos sem saber exatamente o que fazer.

A vida, de repente, parece que resolveu fazer testes de resistência. A galope, entramos na corrida com obstáculos. Olhando de perto, o desejo de transportar-se para o que foi perdido é incontrolável.

A nostalgia é emocionante te levando tão nitidamente ao vivido. Os aromas, imagens, sabores se sucedem na fantasia, como num filme em 3d, salpicando de colorido e graça tua alma com generosas recordações. Teu coração se enche de amor pela vida que te proporcionou encantadores encontros no passado.

E não importa quanto tempo faz. O que importa agora é que ela se encontra novamente na tua presença a te chamar e diz: Vem, vem comigo e seguiremos daqui pra frente, partindo de lá.

Uma a uma as imagens vão se embrenhando no teu agora envolvido na emoção e ansiedade. E o sonho começa a girar rapidamente quando passamos a acreditar que podemos mudar o rumo da vida. O velho se tornou novo e nossa vida agora vai começar.

Das alturas da imaginação arquitetando múltiplas possibilidades nos damos conta que o passado não é, nem nunca será, o futuro.

Portanto, não te joga porque não tem rede!!!!!

Proposta


Adoro propostas. Ainda bem, porque vivemos delas e elas decidem nosso destino. Gosto até das indecorosas, porque me fazem rir. Seja qual fôr o perfil dela.

A proposta comercial vem nos apresentar como profissionais competentes e fazedores de tudo o que está sendo relatado. Um acordo comercial antecede um trabalho que será um sucesso em suas tratativas. O cumprimento das regras estabelecidas para ambos resulta em soluções eficazes e todos ganham. Ganha ganha, uma bela proposta.

Uma proposta de amizade. Muito se fala em amizade e ter amigos já virou uma obrigação. Ai do coitado que não tem amigos. Ele será um pária. A dita cuja amizade é condição si ne qua non para uma vida saudável. Inicia devagar e termina de repente. Ao conhecer uma pessoa, vais tomando pé e descobrindo assuntos em comum acontecendo uma empatia. Dia após dia, pelas circunstâncias da vida os encontros serão mais freqüentes e a amizade vai se instalando. Quando a vida muda, mudam também os personagens que até então te acompanhavam. É assim, é pra frente que se anda.

Proposta de vida. A proposta de vida é uma sinuca. De bico. Amarramos nossos objetivos dando no leme a direção e vamos corrigindo a rota. Até que um furacão nos deite de borco, um raio nos parta ao meio e o vento nos varra da nave. Proposta de vida é isso. Preste atenção! É turbulento e mutante.

Proposta de amor. A mais linda porque é o amor a mola mestra de nossa vida. Somos movidos a afeto e por isso, em muitas circunstâncias, é tão difícil ser frio. Você pode receber uma oferta de amor e entendê-la de forma diferente do que foi sugerida. Cada pessoa lê sua amorosidade de maneira diversa. É encantador e sofrido também. Porisso, tantos desencontros de amor. Escolhas amorosas são armadilhas que poderão vir bem a calhar ou poderão vir a ser o teu inferno. Vai te pegar?

Não, não vai

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Poupando vida



Volta e meia nos defrontamos com situações que te tiram do bate estaca rotineiro e como a vida anda pra frente apesar de a gente ter, às vezes, a impressão que ela anda de lado ou pra trás, tudo nos acontece.

Do melhor e do pior.

Todo mundo, a todo momento, tem que tomar decisões e entre esse ou aquele e lá vamos nós tropeçando na nossa vida e na dos outros. Os caminhos são escolhidos depressa porque a fila anda, a moda passa, e a dúvida não se solidariza com ninguém.

Porém, quem poupa vida anda com tanta cautela que só pode tropeçar e cair. Só pode dar errado. Pensar mil vezes antes, revisar outras tantas o objetivo.

Ficar por aqui ou não
Encarar ou fugir.
Viajar nos sentimentos ou partir pro mundo.
Guardar para o futuro ou gastar.
Correr atrás ou deixar pra lá.

Enquanto fazemos conta de cabeça do que está por vir se lançarmos nossas flechas, a vida segue lépida e faceira.

Sem você. É claro. Resolveu que ia poupar vida. Pra quê? Pra aproveitar depois? Depois quando? Quando os amores foram embora, cansados da espera. Os filhos se enjoaram da demora. Os amigos..que amigos? Eu jurava que estavam aqui ontem.

Para curtir bem a performance lutadora de nossos dias aproveite tudo o que te acontece.

Se for ruim, faça ser bom e se for bom, aproveite!

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Hordas humanas



A análise dos caminhantes dentro de um shopping Center passa por várias fases e dependendo do seu humor, vais reparar neles ou não.

Cada monumento ao consumo tem seu próprio público, e suas fases estão refletidas em cada canto luminoso.

Acredito muito que o shopping atrai todo tipo de pessoa, desde aqueles que necessitam de algo quanto aqueles que ali vão se perder na multidão, se tornar incógnitos misturando-se na massa, como uma necessidade imperativa do seu estado de espírito.

Talvez esse comum mortal deixe sua solidão caseira para trás com a expectativa de encontrar o mundo ali, na construção caprichada e luxuosa, muitas vezes.

Ver refletida sua imagem em vitrines deslumbrantes podendo se jogar dentro do cenário, fazendo parte dele e não mais se sentir um excluído. Abandonar por horas sua vida sem graça e deixar-se levar pelo sonho e pelo capricho da edificação. Tão longe da sua realidade.

Um shopping Center é um lugar perfeito para ocultar uma verdade. Tão fácil na sociedade de hoje se igualar a todos e adotar atitudes e falas contundentes para poder parecer, sem ser.

As hordas humanas que vagueiam pelas ruas aí estão para desafiar os crédulos e ingênuos que se descuidam de um olhar mais aprofundado.

As máscaras são muitas.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Traição



A traição impera de certa maneira no nosso dia começando pelo tempo que prometeu ficar de céu azul e se vendeu aos ventos e chuvas, desabando sobre nossas cabeças, alagando a mente e resfriando o espírito.

Não pense que a traição precisa de circunstância para aparecer. Ela precisa de uma vítima.

No meu entender somos ingênuos na maior parte do tempo e a traição que sofremos é por falta de atenção.

Os traidores perambulam soltos e inocentes fazendo suas vítimas de acordo com a oportunidade. E elas surgem a toda hora nos mais banais acontecimentos.

Ao confessar um segredo e vê-lo espalhado aos quatro cantos
Ao imaginar que se é de tua família e de teu sangue, estás seguro
Ao pensar que tua retidão vai segurar todos os contratos
Ao buscar companhia e ficar vazia de tudo
Ao exercer a confiança e ver que foi desconsiderada

Tanto mais sofremos a traição mais eu percebo que a nós foi dada a inteligência para percebê-la. Nossa intuição capta todos os sinais, mas nem sempre queremos enxergar corretamente o que o universo nos sinaliza.

A traição é movida a partir da ingenuidade de cada um.

domingo, 13 de setembro de 2009

Pois é...


Expressão danada de ruim é o Pois é... a cada conversa em que eu a ouço meu bom senso vai aos ares. Ou melhor, às paginas em branco onde vou escrever com o fígado – como diz um amigo meu. Esta é uma delas.

Quando o Pois é..entra numa conversa, seja amorosa ou amigável, me dá uma desesperança que tenho vontade de sumir do teclado e do mundo. Não tem salvação quem ouve esta mensagem. Mensagem do nada. Do vazio do espírito. Garganta do desprezo puro e simples.

Se for com seu amor que estás falando já pensas que este hiato te coloca para fora do coração dele. O viés do teu olhar busca a alma da pessoa, querendo prever o destino incerto que o ingrato não lhe quer dizer. Parece que está querendo sinalizar que vais levar um “fora daqueles”. Talvez ele queira que você perceba neste intervalo, que ele não te ama mais. Talvez e Pois é... andam juntos como sinônimos do mau agouro. A expressão dá a sensação de abandono. De mal querer. De descarte.

A declaração entra na relação do amor, da saudade e da novidade. Quem não sabe como se portar, ou está enfadado com tua presença ou tem mais o que fazer do que te dar a atenção, larga um sonoro Pois é...que derruba qualquer interlocução. O telefonema começa a dar vários ruídos e você é obrigada a desligar...No MSN, a surpresa escrita, te intima a encerrar por ali..não parece que és bem vindo.

A afirmação gera uma tortura na auto-estima, porque é dúbia, opaca como um algoz que te tira do eixo.

Ficamos no limbo, presos por um tempo, na memória das emoções negativas.

sábado, 12 de setembro de 2009

Sorry


O perdão lembra religiosidade. Sempre. E romance, cinema, letra de música.

A língua afiada dispara, muitas vezes, como metralhadora giratória em momentos que nem são favoráveis e o perdão aparece na circunstância. Aí, que fazer, temos que admitir o exagero e voltar atrás..mas a palavra nunca é perdão..A palavra que vai te dar a redenção do mau, será outra.

Circulamos em volta do perdão, às vezes até odiando ter que fazê-lo. Tropeçamos na voz, no gesto, fortuimos o olhar pra longe para dar impressão de estar arrependido. Nem sempre estamos. Ser sincero é bom demais e voltar atrás é desdizer de quem somos, do que pensamos e dizemos.

Não deveria haver perdão.

Feito o mal, siga e faça o bem. Assim serás perdoado pelo universo.

Tenho pra mim que ninguém se arrepende de nada. Voltar atrás só em último caso e vamos nos dando conta que um pé na acusação e outro na redenção, é o normal.

Redimir-se vale nossa alma, ela sim, maculada por ter passado dos limites com o outro, jaz ofendida. Ferimos a nós mesmos ao fazer a desavença. E somos nós que purgamos nosso pecado.

O que mais vale na situação conflituosa é perdoar si mesmo, por sermos tão imperfeitos e tão soberbos.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

De vez em quando o mundo anda para trás



Às vezes me parece que o mundo anda para trás de tantas surpresas que tenho. As certezas se vão como se nunca tivessem existido e os pensamentos zombam da realidade brincando de não ser.

Vivemos com convicções que nos dão colorido e alegria e de repente a impossibilidade de enxergar o verdadeiro, nos leva a repensar o que existe atrás da cortina da vida.

Acreditar é uma mola propulsora para tudo o que queremos construir e julgar destrói até possibilidades. E como conviver com este mundo multifacetado de personalidades dúbias?

As certezas já não proporcionam segurança e o que nos comanda é a dúvida. Chegou o limite da razão e o mais certo é recolher-se em si buscando o mundo antigo com valores que atualmente não existem mais.

Mundo de tantos nomes e tão pouco conteúdo.

Tantas palavras e muito medo.
Tantas atitudes e conseqüentes desistências.
Tanta exposição e nenhuma sinceridade.
Tanta mentira e tanto disfarce
Tão pouca alma e compaixão.
Tantos amigos e pouca companhia.
Tanto assédio irresponsável.

Andar um pouco para trás e resgatar a dignidade de uma amizade, de um contato, preservar o estreitamento de laços mais humanos, não descartando oportunidades nem pessoas.

Vou ficar um pouco atrás da cortina deste mundo que andou ao contrário.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Hoje acordei com cem anos



Um despertar diferente me leva a crer que fiquei com cem anos da noite para o dia. Percebo o pensamento, outrora célere, parado. Nada dentro da cabeça, todos os nervos embaçados numa farra desordenada e alegre de neurônios em férias. Sensação estranha e boa, afinal. Parece que terminou o tempo de pensar. Agora é flutuar. Nem sei meu nome.

Meus ossos são gravetos arqueados e doloridos e as passadas, leves. Bom não ter vigor. Vigor cansa.

Meu dia de cem anos começa sem tarefas a cumprir. Sem pesos a carregar e sem novidades a lembrar. O mundo parece só meu e de tanto viver, nada devo a ninguém.

De mansinho um ou outro lembrete da vida começa a se derramar e não vem de dentro de mim. Vem de fora, de uma folha de papel jogada ao qual tropeço. Pareço um embrulho roto arrastando a vida que ficou para trás.

O mundo, vazio de futuro, parece comigo. Uma velha cansada. Minha alma jaz ao meu lado, prostrada e cinza, suplicante para voltar ao corpo.

Entretanto, o tempo não parou como eu pressentia. Queria apreciar o nada. Queria enxergar o velho. Queria me enxergar.

E só consigo ver o caminho passado com tantos afazeres empilhados e aprumados que me custa acreditar que aquela fui eu. Cada vez mais jovem, ocupada e tarefeira, pois na lembrança nada me segurou no cumprimento da rotina. E a viagem de volta continua, agora bem rápida.

Engraçado como velho anda rápido para trás!!!!!

Com avidez, a mente abre todas as gavetas e a realidade transborda de dentro delas tal qual lingeries de seda macias, coloridas e jovens.

E, agora lembrei, meu dia de cem anos vai acabar. Como o feriado.

De mal com o mundo

Parceria a quatro mãos com Djalma de Souza Correia



Assim, à primeira vista pode causar-me impressão negativa e me incomodar a falta de sorriso que acho despropositada e me custa entender e que às vezes presencio. Estou falando de gente que nunca sorri. E esse absurdo faz parte do universo feminino por conta da ansiedade em agradar.

Olho com cuidado para estas mulheres que seguidamente cruzam o meu caminho e me arranham a alma. Fico pensando no porquê de tanto mau humor e de infelicidade em suas faces. A cordialidade e amistosidade não estão relacionadas com possuir ou não dentes, o que nos leva a depreender que mostrar os dentes não é finalidade final do sorriso e sim demonstrar felicidade. Haja vista que banguelas sorriem e não deixam de ser felizes. O sorriso é gerado internamente e floresce em razão aparente. É estranho tratar essa mágoa de maneira filosófica e até mesmo baseá-la num contexto socioeconômico. Pensar que somente mulheres ricas, bem sucedidas e com a vida fixada nos 100% da bem-aventurança podem sorrir.

Aquelas estão tão arraigadas a esse estado que se torna difícil desiludi-las de suas idéias pessimistas. Eu acredito que o problema está no fato delas estarem a se esconder sob a máscara da Infeliz Tristeza com boca fechada e lábios descendentemente curvados. Estão tão habituadas com essa fisionomia tipicamente passageira que acreditam que “a máscara” contrária é rara e isto as levam a perderem a espontaneidade descontando nos outros essa falta de auto-estima e vontade de mudar.

Ocasionalmente dizem que as mulheres são invejosas, vaidosas e egoístas, quando em questão está uma outra mulher. O que as incomodam são as máscaras antagônicas.

Parafraseando o diplomata: as pessimistas que me desculpem, mas sorriso é fundamental.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Mentes no chão



Esta crônica foi inspirada na foto que a ilustra. O autor da imagem é o fotógrafo Djalma de Souza Correia. Nossa pretensão é utilizar um “vice-versa” criativo. Ele me manda a foto e eu escrevo, eu mando o texto e ele ilustra, com seu trabalho maravilhoso de fotógrafo.

Começamos pela foto....


Andar a toa, dizem, faz bem para a alma que flutua, um pouco cambaleante de prazer, ao sentir a atmosfera se enroscando pelo corpo físico.

O nosso olhar se transforma em grandes caleidoscópios na busca de cada detalhe do caminho. No zigue-zague, palmas dos pés e pensamentos se unem para viajar na realidade. Muitas das nossas passadas não deixam marcas, mas nos surpreenderíamos se as pudéssemos ver.

Se houvesse o registro da turbulência da mente marcando o chão, teríamos imagens com exatidão emocional.

Em preto e branco os pensamentos funestos, nas passadas embaralhadas a lembrança da agonia. Passinhos fortuitos e alegres acompanham como um raio, a lembrança do melhor. Macios, adentrando o chão, a mente envolvida em perspectivas carinhosas ou de pura ilusão amorosa.

E a passada se desenvolve cada vez mais complexa formando a teia da nossa vida.

Deixada para trás.

Uma rua

  Estanquei o passo ao me defrontar com aquela esquina, uma vez que ela tinha matizes diversos e contrastava com o que havia na minha memóri...