domingo, 23 de novembro de 2025

Um trailer

 


Antes de fechar os olhos, no momento em que o meu corpo finalmente resolve desanimar e se voltar para dentro de si para tentar, pelo menos, corrigir os erros do dia ou, a esta altura do tempo, apenas lembrar ao esqueleto que é chegada a hora de examinar com detalhe se o sistema está aqui e ali avariado e começar a se ajeitar, refazer, se puder.

Na outra ponta o sentimento que esteve ao meu lado sem arredar pé tenta se descolar e recolher-se para um canto qualquer do lugar de descanso porque talvez seja neste exato instante que o trailer do dia termina, quer queira quer não fechando a cortina, encerrando o que aconteceu até este momento não havendo nenhuma chance de corrigir qualquer cena, reabrir um diálogo ou pedir apoio para encompridar este pedaço tão pequeno da película. Apenas um dia que termina. Porém nunca se sabe.

A esta altura a estrutura física já desistiu de continuar alerta e se acomoda deixando de sobreaviso o sopro de vida que o acompanha. As cenas ensaiadas durante o dia ainda repercutem no fundo do coração e apesar de ter certeza que este capítulo foi concluído em algum lugar do espirito fragmentos flutuam aqui e ali invadindo, muitas vezes, o valor da razão, fomentando a dúvida em cima da certeza anterior, desdenhando a atitude correta, subjugando a covardia como modo natural. É assim que acontece um final revolto e duvidoso.

Todos os dados foram jogados no tabuleiro do dia e assim cumprindo o rito de finalização os pés são retirados do chão, as mãos se acomodam frente ao peito guardando que a emoção esteja protegida e deste jeito este pedaço de vida adormece congelado no tempo de hoje.

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