terça-feira, 18 de novembro de 2025

Telefone com rabicho

 


Sempre volto ao antigo telefone e o modo como ficava disposto no lar demonstrando que ele era considerado uma peça chave para que a família pudesse fazer contato com parentes e amigos mesmo morando nas cercanias, assim como os que resolveram migrar e, através deste modernismo da comunicação, conseguiam dar e saber das notícias.

Todas as casas que tinham o privilégio de adquirir esta máquina reservava um recanto na sala ou no corredor que abrigasse com conforto o artefato que solucionava questões cruciais e urgentes, aplacava lágrimas de saudade de muitos, divertia a meninada trocando conversa sobre a turma do colégio, consagrava muita conversa de negócios. Enfim, era sempre uma decoração aprazível e confortável cercada de objetos familiares.

Meu pensamento volta porque a lembrança que eu tenho da infância e até adulta é que ao receber uma ligação se tinha a certeza que adviria um assunto conhecido, as vezes más noticias, porém, na maioria do tempo funcionava um corredor de conversa que trazia boa informação, convites, troca de receita, aviso geral dos movimentos da vila e todos estes temas faziam parte da rotina sem que em tempo algum houvesse ou causasse alguma estripulia no andamento da vida em curso.

Existe um modo diferente, sutil e anônimo que cerca nossa vida e pensamento que me dá a impressão de estar cercada pelo invisível me fazendo sentir que estou flutuando dentro de mim mesma parecendo mais frágil do que deveria, mais vulnerável do que eu gostaria, mais informada do que o necessário e mais contaminada. O recanto do telefone com rabicho não existe mais e com ele sumiu a vida que fluía aos poucos.

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