domingo, 26 de setembro de 2010

Ninho


A palavra já vem nos avisar que é tudo de bom ver entrelaçada nossas experiências que são o sabor da vida. Com conforto vamos tramando este lugar especial e trabalhoso porque nem todos têm a possibilidade ou competência de realizar. Uma maçaroca de conhecimento que conjetura idéias e trama nosso destino.

Laçando retalhos, pontas e fios vou construindo o ninho, uma bola que devo acomodar em algum recanto inusitado e um pouco escondido para que os ventos contrários não arremetam a experiência ao vácuo ou ao vazio do não entendimento dos melhores – e piores – pensamentos.

Vou lembrando que para começar esta meada vejo aquela experiência mal sucedida que brota na lembrança como se fosse uma roupa de cor brega, com feitio nada a ver com meu estilo e, como um tapa na cara – somente agora - me faz refletir e não entender como foi possível ter cogitado usar aquilo e naquela ocasião.

Vejo as ocasiões que pareciam fios de seda de tão suaves a perpassar por entre os meus dias e que por isso mesmo de tão fino e delicado, me cortou e recortou com feridas quase incuráveis. Mascarado de bom material, não vi o quão áspero era de fato e percebo que este cordão era a ilusão que se engraçou em minha vida.

Neste ninho as bases fortes são as de decepção e tristeza porque continuo a encordoar o aprendizado junto com o som dos sabiás incansáveis na primavera, no sol prenunciando o verão, a proximidade do mar e a certeza que as próximas cadeias serão de encantamento.

Se fecha o ciclo do ninho desta etapa pois sempre podemos voltar para desenrolar os nós, refazendo outros.

domingo, 12 de setembro de 2010

Alfarrábios


Decidi fazer uma faxina em papéis. Eu recomendo a atividade para quem deseja sair do ar, voltar a ser bem jovem, ter com vida todos os seus queridos e todos – ou todo – amor recebido em dose dupla.

Rever aquele bilhetinho do filho, ainda criança, dizendo – e escrevendo - que te ama mais que tudo no mundo e toda esta declaração bem exposta em letras e desenhos multicoloridos.

Minhas lembranças já estão amareladas e algumas rôtas de traças e de cor esmaecida.

Mas voltaram a ter vida própria quando lhes tirei o pó, lhe pus os olhos e sorriso, com alguma lágrima beirando por ali.

E então me deparei com poesias e textos que escrevi em 1980.

Não lembrava de tê-las escrito. Nem de ter sofrido tanto.

DANY
Nada.
Nada significa
Nada merece
Nada vale
Nada tem
Nada quero
Nada preciso
Queria....
Teu corpo
Tua imagem
Teu sorriso
Tua vida, meu filho.

DIA SETE

O dia sete é um dia pardo e quente.
Tem céu azul mas também tem cor de sangue, cheiro de asfalto, gosto de desespero e salgado de lágrimas.

A lágrima é translúcida e o mundo não acaba atrás dela.
Acho que Deus fez as lágrimas tão transparentes para que os desesperados vejam esperança, amor e vida por detrás delas.

domingo, 5 de setembro de 2010

Tão longe tão perto



Hoje em dia tudo é longe e tudo é perto, num clic estamos ao lado de quem amamos e o espaço físico não tem mais tanta importância.

A comodidade da poltrona e das teclas nos levam para todos os lugares sem problemas de trânsito, escadas para subir, pacotes para carregar nem presentes para comprar uma vez que ao fazermos uma visita, sempre uma lembrancinha deve ir junto.

Os olhos e as mãos substituem o velho abraço com corações se tocando e perfumes se misturando. É neste mundo dito digital que alargamos a cintura, sofremos de tendinite, forçamos o olhar nas telas, batemos com força emocional num pedaço de plástico, como se todos estes elementos fossem da nossa natureza para chegar perto do outro e se relacionar.

A preguiça de espalhar o amor diariamente nos coloca em posição defensiva e acomodada, parecendo que pelos céus será mais fácil chegar a todos que queremos bem.

A virtualidade tá na moda e pelo jeito vamos murchar por falta de abraços, beijos afetuosos e conversas demoradas.

Desidratados de afeto morremos à míngua por não corresponder a abertos sorrisos.

Então, como dispormos de energia para andarmos mais entrelaçados e dispostos a bater na porta da vizinha e pedir que nos alcance, não um pouco de café, mas uma prosa. A premência da comunicação oral é um pedido de socorro nestes tempos de “nuvens” que guardam dados.

Estas mesmas nuvens que guardam nossos segredos são as detentoras de nossa carência.

Soluções


Elas quase sempre vem à mim sem facilidade e muito menos transparência, porque devo ter um emaranhado danado de minhocas na cabeça por onde uma solução deve achar difícil passar. Resvalando por entre tantos pensamentos, uns mais fugidios, outros bem objetivos e outros tantos reflexivos e bem humorados, uma questão a ser resolvida, fica perdida.

Mas tenho dentro de mim, muito forte, o poder do sono e a majestade da insônia que quando resolve me visitar é para me golpear na cabeça a saída milagrosa da empreitada truncada.

Então você estava aí , parada, e não se fez anunciar. Queria mesmo que eu rodasse quilômetros de pensamentos e conjeturas me abanando com mil razões para lá e cá, sem encontrar você.

E agora num piscar de olhos, simples assim, após um sono, acordo com o assunto resolvido.

Caminhos que seguem dia e noite nos acompanhando sem sequer sabermos deles ao nosso lado.

Uma rua

  Estanquei o passo ao me defrontar com aquela esquina, uma vez que ela tinha matizes diversos e contrastava com o que havia na minha memóri...