terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Final


Todos os poros cintilavam na chegada sentindo todos os cheiros da praia de infância abalroando as narinas, entregando como oferenda de final de ano este perfume raro disponível neste momento, incentivando o devaneio, permitindo empinar a pipa da devoção e do temível presente. Tanto quanto desejado, mais temido, uma vez que neste palco irão se apresentar ao vivo os personagens que deram o tom do ano que passou. Será assim, uma apresentação multimídia, com pincéis de cores variadas, mas não em raras ocasiões faltara tinta e sobretons, entrando de última hora, os tons de preto no branco, assustador.

Para chegar a usufruir a paz prometida e sempre alardeada pelos quatro cantos do mundo, foram retiradas muitas pedras do caminho, muita cangalha derrubada pelos fortes ventos do dia a dia tiveram que ser recolhidos e reposicionados, muitas vezes não se encontrando jamais a maneira original de sua criação. Então, serviço dobrado para limar as ponteiras, ajustar os pedaços que não se entendiam mais porque nas tormentas se separaram de tal forma que somente nascendo de novo, e por assim dizer, cá para nós, ainda bem.

A furiosa tentativa é de desligar todos os esquemas sonoros nesta empreitada infernal para se conquistar e recompor o retrato mudo do que foi embora e não volta. Não há necessidade, neste momento, de palavras sem tom invadindo o espaço, não há porque participar dos locais que se transformam em berreiros áridos e invasivos, a música fora do tom sai de cena, a conversa fica na retaguarda porque assunto que não acrescenta está fora de questão.

Bateram à porta e eu não quis ouvir, acionando meus ouvidos moucos estratégicos e de plantão. Primeiro foi a penumbra que deixei que invadisse o espaço, muda e silenciosa, antecipando a chegada da noite escura. Acompanhando o passo a passo a lua surge soberana e se esconde atrás da cortina adensando a escuridão, mas alertando o olhar. O vento se cala em reverência ao mar que sussurra em ondas todas as suas desventuras e assim compartilhamos o que somente as profundezas de suas águas podem ouvir. 

domingo, 4 de janeiro de 2015

Escolhas


A escolha parecia adequada para aquele momento, mas nunca se sabe ao certo se vai dar ponto ou se será um ponto sem nó ou, pior, se vai se abater uma contramão que derreterá todas as boas intenções. O propósito sempre vem do bom agouro, da intenção de se estar no caminho certo.

As oportunidades vão surgindo e são consumidas como se fossem a única porta aberta, o vão salvador da temporada e vem com lotação esgotada de esperança, de desejo de não ser esquecida, da vontade de superar a si e a todo o passado, responsável pela montagem do presente.

Como um joguinho de lego, as escolhas vão sendo feitas, ora montando fantasmas, ora se espalhando em blocos coloridos difíceis de combinar entre si desafiando a boa vontade de qualquer um e, mesmo assim, o resultado não aparece emergindo deste caos aparente e o inesperado desatino em relação ao que se esperava.

O tempo vai sendo preenchido de pequenas esperas, entremeadas de doces lembranças, de pedidos em sussurro de perdão pelo suposto mal feito, do alongamento das preces ao cair da noite, da elevação do pensamento, da solicitação de esquecimento das perfídias involuntárias. O caminho oculto está sendo trilhado um pouco sem destino, outro tanto temeroso e mais precisamente, angustiado.

As tranças de linhas invisíveis se cruzam como se desconhecidas fossem, e talvez o sejam, porque de um lado um convite em aberto e de outro o descaso não conseguindo estes dois antagônicos desejos se encontrar. A grande dúvida aparece e insiste na pergunta: O que foi agora?

Uma rua

  Estanquei o passo ao me defrontar com aquela esquina, uma vez que ela tinha matizes diversos e contrastava com o que havia na minha memóri...