quarta-feira, 5 de novembro de 2025

A face

 


Não pensei duas vezes quando decidi apagar a minha face e a colocar  na mão em frente a mim. Eu queria saber com que rosto eu ando por aí, se está mais rosado ou pálido, se parece – pelo menos – otimista. Ando curiosa em saber de mim uma vez que achei por bem descansar um pouco das multidões, que pelo jeito de nada adiantou porque elas entraram dentro da minha cabeça fazendo muito barulho, me deixando muitas vezes com medo e confusa até na hora de acordar.

Ando abrindo um olho bem devagar para me inteirar se ainda é noite ou se clareou o dia e se isto já ocorreu, verificar se andou tão rápido que já perdi metade da reza ou, se ele está me esperando com todo cuidado oportunizando rever meu feito, se a borracha continua em cima da mesa em prontidão para corrigir as letras que as vezes saem do lado avesso deixando o recado duvidoso, aliás, uma preferência minha, quase um vício. Gosto de embaralhar os naipes, pensar sobre o seu significado, dar a minha razão e brincar de contar o que estiver em frente, ponto por ponto.

Acredito que sem enxergar a minha reação a tudo terei a oportunidade de buscar uma máscara, destas que desfilam em todo lugar, uma que resolva ter como tema a cara de paisagem e trilhar por entre o tumulto como se fosse um fantasma, quem sabe aquela de cara emburrada que sonega um sorriso até para um cachorro ou outra que exponha um sorriso perene soando falso para todos, menos para o personagem em questão. Pensando um pouco nesta farsa ensaiada eu consiga me recolher.

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  Não pensei duas vezes quando decidi apagar a minha face e a colocar   na mão em frente a mim. Eu queria saber com que rosto eu ando por aí...