Cheguei aqui com uma mochila abarrotada do período
deixado para trás. Todas as coisas importantes estavam ali milimetricamente
acomodadas para que eu não tivesse a menor chance de esquecer nenhum detalhe do
ocorrido em tanto tempo, lidando em outras paragens, respirando outros ares, conversando
com outras pessoas, caminhando em outras calçadas e suspirando por outros
amores. Veio tudo, amigos, inimigos, desafetos, ternuras, familiares,
conhecidos e desconhecidos. Deixei um canto para eles, vai que eu me lembre de
alguém por quem passei, mas não tive a oportunidade de me fazer presente.
Eu cheguei à casa nova antes com a tal bagagem
que pesava menos nos meus ombros do que na minha alma e por este motivo eu a
abandonei em um canto, porque eu esperava que dela viesse o apoio de que eu
necessitaria mais cedo ou mais tarde, talvez quando houvesse passado a euforia,
ou quando meu sorriso cansasse, ou ainda quando o sol já me queimasse e o vento
me açoitasse. Quiçá quando eu sentisse certa saudade ou quisesse lembrar-me de
como tudo era ou foi, me atrapalhando até no verbo.
Minhas digitais vieram no caminhão e tiveram
uma sorte mais organizada porque os objetos já encerravam em si suas estórias
bastando coloca-los no lugar para que algazarra se iniciasse e, depois de certa
balbúrdia tudo se acomodou em seus devidos lugares, deixando assim o ambiente
pronto para receber as emoções novas que se avizinhavam.
Assim que os amanheceres começaram resolvi
abrir todas as possibilidades de socorro que eu havia embalado tão
cuidadosamente e me surpreendi ao verificar que o alforje se encontrava vazio.
Todos os vínculos que ali prendi não existiam mais me fazendo forçar a vista
para compreender que estes, a quem era dedicado, não se atrelaram a mim.
Agora, perseguindo este vácuo encontrei um caminho
cheio de conexões acessíveis, parecendo fitas de cetim multicoloridas
balançando nas ruas, nas avenidas, na beira do mar, na minha calçada e janelas,
acenando para os tempos de esquecimento. Foi neste clima que aconteceu aquele
chá de praia em uma grande mesa onde especialidades se acomodavam ao centro e o
chá era servido aquecendo nossas almas, alargando as risadas. O bornal da vida
se encontra aprumado e desta vez com seu enredo bem enlaçado.