Dei de cara com este caminho que, em um
primeiro momento, me deu a impressão de ser idílico, com uma deslumbrante
paisagem a lhe cercar, sendo por isso mesmo por demais convidativo o ingresso de
pés descalços nesta madeira porosa, com uma aspereza deliciosa, quente do sol,
mas nem tanto, soando como um convite imperdível para seguir alguns passos
adiante. Meu olhar atravessava sua utilidade planando no que vinha depois, e,
com certo sentido de ilusão de tempo e espaço meus olhos se fixaram longe, ao
invés de ater-se no que de bem perto acontecia, ou prometia.
A primorosa construção se acomoda praticamente
no vácuo da paisagem, auferindo de certo modo um caminho de ilusão, um
passadiço que tem logo ali determinada a suspensa da sua passada e com uma
probabilidade muito grande de, ao seguir com o olhar ao longe, pisar em falso e
em seguida submergir na paisagem plena e realística ou no liquido da vida e não
nos sonhos.
Uma fantasia interessante se pensarmos que,
acabando este caminho, poderemos afundar na incógnita de nossa vida inteira,
cair de pé na esperança e não somente na quimera, e assim, seria como se esse
palmilhar que se apresenta viesse dar o recado da percepção de estancar a
sangria da história e dos acontecimentos, o fim de uma era, o fim de um ciclo,
do riso, da vontade, da iniciativa.
Olhando com mais vagar, me salta aos olhos
que poderá haver outro propósito esta travessa em que, de primeira, percebo não
haver corrimão, nem apoio para quem ali se achegar trôpego de sofrimento, cego
de amor ou ódio ou sabe-se lá, para dar um fim em tudo. Ele pode estar
configurado para uma forte e delicada sustentação para que o norte surja como um
milagre para aquele futuro que se alinha lá, bem longe, no horizonte das vidas,
e assim se rume para aquele futuro que se avizinha sem cair no fim do curso e
na profundeza da incógnita.
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