Acomodou-se naquele dia lindo na beira do mar
a quem sempre se arremete quando o imaginário se torna obsessivo e que mesmo
sem dar-se conta, a transformação de todo o seu ser já aconteceu, mesmo que ela
não queira. Parece bruxaria ou magia, não sabe bem, porém a necessidade de
instalar-se com aquele feitio olhando o mar é uma força poderosa que arrasta
todas as suas vontades.
Primeiro, percebe que além do tipo físico que
se transmudou depois de chegar ali no umbral, também os seus instintos se
alteraram, se tornando ela muito envaidecida de si, sua voz normalmente
desafinada tornou-se maviosa ao iniciar uma cantoria um pouco sem sentido. A
cabeleira também sofreu certo destaque espalhando tantos cachos ao redor dos
seus ombros que ficava difícil enxergarem sua feição e, não havia também,
nenhuma vestimenta, apenas uma forma que se enroscava lânguida junto à espuma
das ondas.
Assim, de longe, poderia ser uma miragem, uma
ilusão, destas que acomete quem se encontra solitário, sentindo falta de alguém
mais próximo, talvez um alô de filhos, netos, parentes enfim. Um mito pode
aparecer na mente que vagueia no fantástico, se travestindo de algum personagem
para que de metáfora em metáfora atraia para si o que tanto lhe faz falta.
Esta figuração de uma fábula na beira do mar,
que mitologicamente cantava lindamente para desviar navios de suas rotas, pode
servir como um segredo para, em se fazendo diferente, sedutora, linda e
disponível poderá trazer de volta as promessas e afetos, desde aqueles todos
que após a despedida tiveram amnésia dos laços de amizade, como aquelas tantas
conversas prometidas que acabaram se esvanecendo, também os encontros prometidos
em reza que perderam rapidamente o seu tom cristão e os acenos de calçada que
caíram como fruta madura.
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