A praia acordou hoje monocromática deixando
os moradores com a sensação inusitada de pairar por entre as sombras úmidas
desta atmosfera que se arregala sobre a paisagem, não importando que tudo se
esconda entre sombras, que os mandantes do humor do praieiro – sol e mar –
fiquem escondidos por um bom tempo. Resta aos caminhantes adivinhar o que pode
acontecer em cada virada de esquina podendo muitos até se perder ou aproveitar
o instável para fugir de si, dos outros, da vida quem sabe.
Parece assim, que as águas se revoltaram de
certo modo por estarem ali, sempre à disposição, sempre a vista, sempre por
perto, sempre de plantão e então se evadiram, condensando no ar um pouco de si,
causando este sombreamento e também se divertindo com a falta de vista de
poucos passos de muitos.
Uma fantasia ilustre a de se partir em dois,
deixando que um pedaço dos mares se transforme em um vapor e possa assim ficar
muito perto da superfície, fustigando com incógnita, as ruas, as casas, as
árvores, as estradas e talvez sugerindo que neste dia imagens normais tenham
que ser refeitas. Não há garantia do caminho a chegar, não obedece aos
instintos porque estes se perderam na escuridão do tempo, mesmo esfregando os
olhos não se desanuvia nenhum norte.
A natureza muito sábia está dando um puxão de
orelhas para quem faz tudo igual todo santo dia e agora, com o caos da meia luz
instalado surge em cada quebrada o desconhecido inquietante, o vácuo do futuro,
a ansiedade de não reconhecer o destino, o pesadelo de se perder porque assim
tudo o que parece ser não é. Os perigos inexistentes em dias de sol agora se
acumulam em cada esquina, em cada rua a ser atravessada, em cada poste que se
jura nunca haver estado ali, a faixa de segurança fica incerta, os vizinhos de
passeio passam ao largo e a manhã marítima continua contando seus mistérios.
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