domingo, 16 de julho de 2017

Neblina


A praia acordou hoje monocromática deixando os moradores com a sensação inusitada de pairar por entre as sombras úmidas desta atmosfera que se arregala sobre a paisagem, não importando que tudo se esconda entre sombras, que os mandantes do humor do praieiro – sol e mar – fiquem escondidos por um bom tempo. Resta aos caminhantes adivinhar o que pode acontecer em cada virada de esquina podendo muitos até se perder ou aproveitar o instável para fugir de si, dos outros, da vida quem sabe.

Parece assim, que as águas se revoltaram de certo modo por estarem ali, sempre à disposição, sempre a vista, sempre por perto, sempre de plantão e então se evadiram, condensando no ar um pouco de si, causando este sombreamento e também se divertindo com a falta de vista de poucos passos de muitos.

Uma fantasia ilustre a de se partir em dois, deixando que um pedaço dos mares se transforme em um vapor e possa assim ficar muito perto da superfície, fustigando com incógnita, as ruas, as casas, as árvores, as estradas e talvez sugerindo que neste dia imagens normais tenham que ser refeitas. Não há garantia do caminho a chegar, não obedece aos instintos porque estes se perderam na escuridão do tempo, mesmo esfregando os olhos não se desanuvia nenhum norte.

A natureza muito sábia está dando um puxão de orelhas para quem faz tudo igual todo santo dia e agora, com o caos da meia luz instalado surge em cada quebrada o desconhecido inquietante, o vácuo do futuro, a ansiedade de não reconhecer o destino, o pesadelo de se perder porque assim tudo o que parece ser não é. Os perigos inexistentes em dias de sol agora se acumulam em cada esquina, em cada rua a ser atravessada, em cada poste que se jura nunca haver estado ali, a faixa de segurança fica incerta, os vizinhos de passeio passam ao largo e a manhã marítima continua contando seus mistérios.

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