Acendi três velas, todas parecendo iguais,
mas certamente que para cada chama que ardia, um propósito se avizinhava, mesmo
sutil, assim como é a vida, ou melhor, assim como eu a vejo, cautelosa apesar
de a primeira vista ser arrebatadora, às vezes vulgar ou em outra partida bem
agitada. Nada disso eu queria para aquela circunstância em que aquietar o que
parecia impossível era a minha meta. Definido então o propósito com objetivo acentuado,
a urgência na prece existia para que assim eu pudesse separar o que muito
embaralhada estava, vez ou outra.
Dediquei a primeira chama, que por qualquer
motivo se aparteou para um lado só, a verdade que agora se impunha como fato
concreto e do qual eu não conseguia mais fugir. O normal é amanhecer já
sonhando o dia, a fantasia concretizada de pisar meus pés nus na areia fina da
praia como se ali fosse apenas o muro da minha casa e não este portal oceânico
de possibilidades naturais que praticamente me engolem. A pequena chama além de
alumiar muito tenuemente minha proposta, aquece e muito, meu coração, este
coitado todo enredado em si e que enaltece a prece.
A segunda flama já vem mostrando a que veio
porque ocupa com muita circunstância todo o pequeno espaço que lhe foi
dedicado, mostrando assim que no quesito oportunidade, a vela não se fez de
rogada. Espalhou-se mostrando que neste território quem manda é ela e assim,
fiquei um pouco tímida, porque esta daí me alembrava de que seria dedicada a
algum amor platônico, a alguma paquera meio que esquecida e que em vão eu
tentava ressuscitar sem sucesso algum. Vai ver que é, por este motivo, que ela
fica exatamente no meio, tipo, não sei se vou, não sei se fico.
O terceiro lume se verte mais para a
esquerda, se apequena em sua luz, surge com mais fraqueza como se de fato se
arrependesse de algo, ou, mais claramente, como se não tivesse mais forças para
manter-se de pé, de fazer da trinca religiosa uma alternativa para se chegar a
Deus com mais facilidade. O lume derradeiro parece cansado, opaco no seu destino
e de certa forma sente que se apequena frente ao tanto que precisa dar, mas,
como toda prece se oferece com generosidade.
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