segunda-feira, 17 de julho de 2017

Sedução


É muito fácil acreditar em palavras que podem ter uma mínima sequencia e que por qualquer tom mais habilidoso vai encontrar em nossas rimas a conjugação perfeita, a continuação do parágrafo bem encaixada, a resposta para a pergunta ora formulada criando deste jeito uma prosa complexa e sedutora. No escuro da identidade todos os sorrisos são de orelha a orelha, todas as discussões são relevantes e quase todo assédio pode passar despercebido se o critério continuar sendo o de se deixar levar.
Volta e meia o encanto aparece no secreto aconchego da parafernália que ilusoriamente esconde as quimeras sem identidade, com um traço obscuro, travestida de boas doses de charme, de falar o que o outro quer ouvir, de sorrir sem achar graça, de colorir a conversa com pantomimas hilárias disfarçando assim o oculto das intenções.
É na solidão dos teclados, nas caminhadas a esmo, na mania de ficar com os olhos pregados ao longe, que as armadilhas são assentadas como tijolo de vidro, sem de fato serem apreendidas a olho nu, porque no espaço é onde elas se assentam melhor. Falsos ardis incluem a disseminação de sentimentos vários, de duvidas, de se ficar com dois corações, de não saber se fica ou vai embora, se acredita ou ri da bobagem, se sente raiva pelo insólito ou vira as costas e segue seu caminho sem olhar para os lados.
Mais fácil seria dar uma olhada despretensiosa por cima do ombro e verificar se este veleiro com bandeira falsa não é apenas uma canoa com casco avariado que recebeu uma tinta fresca e entre uma marola e outra sua estrutura vai adernando. O falso jogo jogado sempre vem com perna de anão e pode se achegar dando pinta de ser o que não é e se os incautos prestarem mais atenção perceberão que seu conteúdo evapora-se no primeiro suspiro de dúvida, esquivando-se para outro canto, escurecendo o sumiço para a impermanência da ilusão, que por hora, está dominada.

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