É muito fácil acreditar em palavras que podem
ter uma mínima sequencia e que por qualquer tom mais habilidoso vai encontrar
em nossas rimas a conjugação perfeita, a continuação do parágrafo bem
encaixada, a resposta para a pergunta ora formulada criando deste jeito uma
prosa complexa e sedutora. No escuro da identidade todos os sorrisos são de
orelha a orelha, todas as discussões são relevantes e quase todo assédio pode
passar despercebido se o critério continuar sendo o de se deixar levar.
Volta e meia o encanto aparece no secreto
aconchego da parafernália que ilusoriamente esconde as quimeras sem identidade,
com um traço obscuro, travestida de boas doses de charme, de falar o que o outro
quer ouvir, de sorrir sem achar graça, de colorir a conversa com pantomimas
hilárias disfarçando assim o oculto das intenções.
É na solidão dos teclados, nas caminhadas a
esmo, na mania de ficar com os olhos pregados ao longe, que as armadilhas são
assentadas como tijolo de vidro, sem de fato serem apreendidas a olho nu,
porque no espaço é onde elas se assentam melhor. Falsos ardis incluem a
disseminação de sentimentos vários, de duvidas, de se ficar com dois corações,
de não saber se fica ou vai embora, se acredita ou ri da bobagem, se sente
raiva pelo insólito ou vira as costas e segue seu caminho sem olhar para os
lados.
Mais fácil seria dar uma olhada despretensiosa
por cima do ombro e verificar se este veleiro com bandeira falsa não é apenas
uma canoa com casco avariado que recebeu uma tinta fresca e entre uma marola e
outra sua estrutura vai adernando. O falso jogo jogado sempre vem com perna de
anão e pode se achegar dando pinta de ser o que não é e se os incautos prestarem
mais atenção perceberão que seu conteúdo evapora-se no primeiro suspiro de dúvida,
esquivando-se para outro canto, escurecendo o sumiço para a impermanência da
ilusão, que por hora, está dominada.
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