O mar não estava para brincadeira nesta manhã
com as ondas lambendo, não somente a beira de praia, mas se arvorando de mar
revolto, chegando às dunas, afugentando pescadores, homens e mulheres
solitários que tem a companhia do oceano todos os dias e mesmo assim rejeitam
com sabedoria a alcunha. Mesmo com estas águas que inundam até o pensamento
percebi em um córrego que corre para o mar - como se ao encontro de algum amor
perdido fosse - um barquinho de papel que navegava sôfrego. Afinei o olhar e
dei-me conta que ele foi confeccionado com papel jornal, e todas as letras
originais vagavam em pedaços dobrados, dando certo sentimento de confusão ao tentar
decifrar quais assuntos foram jogados deste jeito misterioso e também infantil,
aos meus olhos.
Primeiro, me deram as caras as manchetes que
estavam nas abas mais abertas e talvez por este motivo interessei-me em saber o
que o autor do inusitado artefato escolheu para navegar em águas de riacho para
depois encontrar-se com o mar, fatalmente. Um mar que hoje não está pra
ninguém, nem a peixada se arrisca em suas ondas tal a dança vertiginosa que
anda ensaiando com seu parceiro ventania.
Resolvi chegar mais perto para matar a
curiosidade e ler quais foram as folhas escolhidas pelo autor da brincadeira e
que estava fazendo esta bagunça no meu dia. Para minha surpresa ali não haviam
palavras encadeadas, não estava impressa nenhuma noticia, nenhum fato relevante
que viesse a fazer parte da história, nenhum alerta da maré, nenhum prognostico
para o tempo e muito menos alguém projetando no horóscopo minha sina na terra.
Ao encalhar em alguns galhos, como se ousasse
um refresco antes de se tornar apenas papel molhado jogado ao mar, consegui ler
alguma coisa de sua feição como: não se amofine, esqueça, lembre, corra, pare,
olhe, feche os olhos, fale, cale, ignore, tome conhecimento, ou...seja você.