segunda-feira, 3 de abril de 2017

Prisão


Os grilhões são imperceptíveis a olho nu e quiçá se lhe fincar uma visão mais inquisidora, uma busca com mais detalhe desta que pode ser apenas uma sensação e que, independente do olhar que se faz refém de si mesmo, ou das circunstâncias, sente na pele o furor dos grilhões, das algemas, aldravas, pregos e parafusos que parecem reais, mas na verdade simulam com maestria os sentimentos. Os aprisionados nas masmorras da vida sangram em seus cárceres privados mesmo que em desaviso, mesmo que não possuam a percepção de haver sucumbido ao chamado de tantos, e muitos, neste mundo de população com perfil de algoz.

Os calabouços de uma existência estão todas por ai, soltas e com certo chamariz para quem se aprouver de instar em tantas esferas que não lhe apetecem de fato, mas que, por tantos motivos, lhe sugerem que este é o melhor caminho. Cegamente se trilha então, os modos de vida aparentes que são tão ordinários a todos que fica difícil mesmo não acreditar que existem outros modos perfeitos de se levar a vida.

Não brota em nenhum momento à cachola entreverada de assuntos, seja qual for que existe, sim, uma aldrava que tem em si o desempenho de ser alvissareira, de ter em sua montagem um segredo de liberdade, uma maneira sutil de permitir que assim que aprouver ao prisioneiro, conquistará sua liberdade.

E então quem sabe voltar um pouco àquelas ideias de ter um arbítrio para os próximos passos, uma atitude que se confunda com certa essência de ser em si, um desejo de se tornar alguém que de fato exista para os outros e não este fantasma que paira solitário na vida, refém de um passado e que de certa forma se conceba no limbo da duvida.

E se desse para compreender que seria possível tornar-se um motivo ao invés de ser apenas um pulo, uma ponte, um qualquer, que sirva de investida para que tantos outros se instalem em algum espaço, ou em outro lado, ou outro viés. Murmúrios de um xilindró que não possui de enlaça, muro, cerca ou qualquer tipo de impedimento para andar na vida em frente.

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