A saia rodada inspirava uma dança qualquer,
um rodopiar desconexo, sem música, um vai e vem de passadas que, por demais
gastas de arrastar chinelas, se descalçaram e agora viraram apenas pés nus,
aproveitando qualquer chão, deixando entrever muito pouco do movimento que
ajeita os pensamentos de liberdade, de colocar em polvorosa o corpo e tudo o
mais que lhe habita.
No compasso, um ritmo silencioso e
transparente que se entrega à natureza clamando para que venha fazer parte
desta cena fortuita e cheia de mistérios, de enlaces bem costurados, de olhares
fechados, de vestes roçagantes e peito aberto. No descampado, se realizam todas
as cadências de uma terra solitária, sem o arroubo de carmines, com um céu em
conluio com o alvoroço dos ventos e cores lúgubres que acolhem a dançarina que se
arremete e chama para si a maestria da natureza a lhe fazer companhia.
A fronte se esconde desatenta do entorno e
apenas a lógica do movimento acelera o tempo que se prevê casual na
transparência da roda da saia de múltiplas camadas, antecedendo um levíssimo
modo de baile.
A natureza, cheia de personalidade agreste,
emoldura a cena, meneando com finura os tules, os brocados, os laços de fita
agitando demais o figurino, que sutil conspira para jazer em roda velada a
cabeleira, que encobre o rosto silente que ali se encontra apenas para se transformar
em acompanhante do modelito franjado que lhe espreme a cintura.
É nesta hora que a dança interna acontece. As
ideias rodopiam e se acumulam uma sobre a outra em delicadas camadas de assunto,
tendo como moldura o cenário que exibe uma palheta de cores criada para não
distrair.
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