segunda-feira, 10 de abril de 2017




Seria bom pensar que este tempo que anda mais organizado e para muitos, silencioso, que o corpo se voltasse a práticas menos densas, com uma ginga suave que balance os minutos sem sofreguidão, que pareça que as horas sagradas do dia se estabeleçam com perfeição engatilhando os segundos que passam com as tarefas que se tem pela frente. Tudo em um ritmo abençoado de recolhimento, como manda a cartilha divina.

No entrevero do dia, um olhar para dentro de si, buscando enxergar o que ninguém vê e, talvez, nem o próprio dono da alma que após a virada de chave na vida, anda molenga, um pouco sem serventia aparente, curtindo o estágio de ensimesmar-se para depois da experiência projetar ao mundo estórias pouco contadas, frases sem efeito e com resultado difícil desalentando quem busca o entendimento por si só.

Aquietar o pensamento se torna tarefa hercúlea porque, aparentemente, ele se encontra com a mudez do tempo presente e, mancomunados se enlaçam e se calam. Ninguém pode ouvir o que não está sendo dito, e assim a função de elevar apenas o pensamento ao infinito acontece de maneira lúdica trazendo para o ambiente apenas a oração, que se desprende do íntimo, tornando-se uma substância em si.

Entende-se este tempo, que termina logo ali, como um período de natureza purificadora onde o simbolismo se movimenta através da reza, do fechar de olhos, da percepção da magia, da fumaça etérea, do significado de recolher-se em contemplação aspirando essências milagrosas. Um gesto simplório de apequenar-se frente ao tamanho da história dos mundos e da fé.

Um comentário:

Capitani disse...

Lindo texto. Adorei! Leitura agradável e sutil.

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