Seria bom pensar que este tempo que anda mais
organizado e para muitos, silencioso, que o corpo se voltasse a práticas menos
densas, com uma ginga suave que balance os minutos sem sofreguidão, que pareça
que as horas sagradas do dia se estabeleçam com perfeição engatilhando os
segundos que passam com as tarefas que se tem pela frente. Tudo em um ritmo
abençoado de recolhimento, como manda a cartilha divina.
No entrevero do dia, um olhar para dentro de
si, buscando enxergar o que ninguém vê e, talvez, nem o próprio dono da alma
que após a virada de chave na vida, anda molenga, um pouco sem serventia
aparente, curtindo o estágio de ensimesmar-se para depois da experiência
projetar ao mundo estórias pouco contadas, frases sem efeito e com resultado
difícil desalentando quem busca o entendimento por si só.
Aquietar o pensamento se torna tarefa
hercúlea porque, aparentemente, ele se encontra com a mudez do tempo presente e,
mancomunados se enlaçam e se calam. Ninguém pode ouvir o que não está sendo
dito, e assim a função de elevar apenas o pensamento ao infinito acontece de
maneira lúdica trazendo para o ambiente apenas a oração, que se desprende do
íntimo, tornando-se uma substância em si.
Entende-se este tempo, que termina logo ali,
como um período de natureza purificadora onde o simbolismo se movimenta através
da reza, do fechar de olhos, da percepção da magia, da fumaça etérea, do
significado de recolher-se em contemplação aspirando essências milagrosas. Um
gesto simplório de apequenar-se frente ao tamanho da história dos mundos e da
fé.
Um comentário:
Lindo texto. Adorei! Leitura agradável e sutil.
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