Dia denso quando o mar reflete o seu cinza
outonal por toda a parte e me parece que a natureza responde ao chamado do
soberano, mais não seja porque a orla gaúcha se acomete de muitos efeitos
enquanto a estação quente não se aproxima, ou, melhor dizendo, quando as estações
amenas tem a primazia junto aos seus moradores. A atmosfera e o vento
inexistente se dão as mãos e tudo na beira da praia conspira para prover uma
caminhada lenta, de pés descalços nas areias frias como se a gente fosse
criança ainda. Este é o poder do mar gelado para quem lhe tem como companhia ao
alcance dos olhos e dos pés.
O oceano recuou e suas ondas vez ou outra vem
brincar bem perto das dunas, fazendo um jogo de corrida em alguns trechos,
voltando ao leito dando risada da traquinice e embolando os bichos de praia que
não andam com a preocupação de adernar por ora, mas com a invasão aquífera
rolaram de volta ao curso.
No percurso que fico seguindo acabo jogando meus
pensamentos mais revoltos nas areias da
beira mar, talvez com a má intenção de vê-los se perderem por ai, como se
fossem despojos de navios, carcaças de peixes, linhas e redes de pesca enroladas
em trastes arremessados ao mar, e agora, vagam sem destino.
Vou jogando, de primeira, tudo o que o dia a
dia me coloca pela frente, simplesmente por estar distraída, por não ter tido
em meus olhos o filtro correto para o que aparece de fato e não o que pretende
ser. Na sequencia, vejo afundar como se areia movediça fosse, estes sinais.
Ao levantar os olhos para o horizonte, lá
estão os dois – nuvens e oceano – partilhando da mesma cor e calma, em comum
acordo, sem nenhum dos dois disputar a melhor beleza evidenciando que esvaziar
a mente significa que se pode, por um período, deixar a existência
monocromática.
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