Valter havia acordado cedo
naquele dia porque estava pensando na Maria Estela, aquela moça da esquina que
lhe chamava a atenção por ser – ou parecer – delicada e muito tímida o que lhe
causava uma ansiedade fora do comum, talvez por ter um temperamento que navega
por todos os humores causando, muitas vezes, uma certa estupidez ao tomar
algumas atitudes. Por este motivo, hoje, mesmo com a possibilidade de estar na
janela para ver a moça passar ele resolveu que tentaria frear sua ansiedade
fazendo pausas entre um suspiro e outro cadenciado com o seu coração.
Com este pensamento em mente
tentou entender qual seria a importância de ver a moça passar sem poder
alcança-la para uma prosa já que a timidez dela invadia sua mente e acontecia
um suspense dentro de si que travava suas pernas, embaçava os olhos, aturdia
seu coração que ora quase parava, ora acelerava sem controle. Resolveu sair da
janela e sentar no banco de jardim, bem perto do muro, ficando à espreita,
olhando vez ou outra para o relógio, imaginando que ele deveria avisar o grande
momento em que ele despertasse para abordá-la.
A espera se alongava, seus
olhos iludidos fazia a rua parecer muito maior do que realmente era e, em seu
pensamento, aguardava o momento certo para lançar-se a sua frente, acenar,
talvez assobiar e, finalmente entabular a conversa. Valter lutava para conter o
devaneio que o invadia todos os dias na mesma hora. Hoje decidiu que iria ao
encontro de Maria Estela como se fosse o herói da rua, lhe faria uma pergunta
boba, uma conversa fugaz sobre o tempo e na sequência pediria para lhe
acompanhar. Encorajado pela expectativa de finalmente dar o primeiro passo
colocou-se do outro lado do muro ajeitando seu melhor sorriso e após todo este
prumo, ao levantar a cabeça, estava em frente a Maria Estela.