Acordei de repente visto que o
silêncio ensurdecedor do lado de cá do mundo veio dar seu recado, faltando,
inclusive, o som da passarada na janela, o latido morno da cachorrada de rua, a
carroça do catador, o caminhão do lixo e os praieiros da arruaça etílica do
verão. Nenhum destes personagens mostrou a cara nesta madrugada quente – ainda
– e mais calma que água de poço.
O dia clareia mais tarde, brindando
os madrugadores com o manto da noite espalhado, sonolento, quieto, acreditando
que aparentemente o modo de vida do lugar está vazio da balburdia mas, cheio de
indagações, feridas que se abriram, ofensas que surgiram, rebuliço generalizado
por uma coisa ou outra com uma ou várias gavetas da alma abertas e sangrando.
Este tempo sempre foi dos excessos e “non sense” e agora que a farra se foi a
noite divina surge como um bálsamo de cura restabelecendo a rotina de paz do
lugar.
Assustada pelo modo lúgubre
que o dia se anuncia desço descalça e vou à rua pé ante pé rumo ao mar, também mudo
e escuro, para assistir sua entrada no dia. Não preciso acordar a natureza que
está em claro conluio com os Astros Reis
da Praia e sigo em frente. Por algum motivo, ou outro ou nenhum meu pensamento
tomou a cor da noite estabelecendo uma pungente aproximação com o que estava
por vir.
Importante abrir meu coração e
revisar o que entrou indevidamente, o que foi renegado e o que pode daqui para
frente me engrandecer. Acredito piamente que a fala da minha alma com quem
nasce tão quieto irá me dar a resposta que necessito. Uma dúvida na noite
escura.
Nenhum comentário:
Postar um comentário