domingo, 9 de março de 2025

Aquela noite

 


Acordei de repente visto que o silêncio ensurdecedor do lado de cá do mundo veio dar seu recado, faltando, inclusive, o som da passarada na janela, o latido morno da cachorrada de rua, a carroça do catador, o caminhão do lixo e os praieiros da arruaça etílica do verão. Nenhum destes personagens mostrou a cara nesta madrugada quente – ainda – e mais calma que água de poço.

O dia clareia mais tarde, brindando os madrugadores com o manto da noite espalhado, sonolento, quieto, acreditando que aparentemente o modo de vida do lugar está vazio da balburdia mas, cheio de indagações, feridas que se abriram, ofensas que surgiram, rebuliço generalizado por uma coisa ou outra com uma ou várias gavetas da alma abertas e sangrando. Este tempo sempre foi dos excessos e “non sense” e agora que a farra se foi a noite divina surge como um bálsamo de cura restabelecendo a rotina de paz do lugar.

Assustada pelo modo lúgubre que o dia se anuncia desço descalça e vou à rua pé ante pé rumo ao mar, também mudo e escuro, para assistir sua entrada no dia. Não preciso acordar a natureza que está em claro conluio com os Astros  Reis da Praia e sigo em frente. Por algum motivo, ou outro ou nenhum meu pensamento tomou a cor da noite estabelecendo uma pungente aproximação com o que estava por vir.

Importante abrir meu coração e revisar o que entrou indevidamente, o que foi renegado e o que pode daqui para frente me engrandecer. Acredito piamente que a fala da minha alma com quem nasce tão quieto irá me dar a resposta que necessito. Uma dúvida na noite escura.

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