sexta-feira, 7 de março de 2025

Dando o recado

 


De repente, não mais que de repente o sol se deu conta que havia chegado a hora de estancar sua fúria por sobre a gentalha que nasce dos buracos de areia da praia, que surge dos cômoros, que arremete sua tralha para todos os lados, que coloca o pé de cidade ansioso no caminho livre, no bloqueado, não importa.

Com um certo sentido de vexame resolveu arrefecer sua claridade, esmaeceu sua cor passando para um matiz aguado, sem tintas fortes ao nascer no mar e ao deitar-se na serra, sem romper a barreira do destempero que, cá para nós, estava assolando sua personalidade de Rei. Esqueceu até que sua luz açoitava sem dó os gramados, as flores silvestres, o lombo do idoso, as lagartixas, as baratas, e todo o mundo particular ao rés do chão.

A pouca gente que colocou a cabeça para fora depois de uma boa temporada de escaldo animou-se e foi brindar o vento que soprava receoso e as ondas do mar bem baixinhas, parecendo que toda a cautela é pouca em relação aos arroubos do Rei Sol neste veraneio. A cachorrada saiu de dentro do matinho se jogando no córrego para aliviar a sede e se foi a passo por entre as árvores procurar seus protetores de rua.

Na beira mar aquele silêncio obsequioso dos ficantes da terra abençoada não havendo nem sombra do olá escandaloso que permeou a costa nos últimos meses, as ruas se aquietaram e louvaram o Rei Sol, que saiu do modo fúria, o vento soprou tranquilo com certa sonolência e o mar abraçou delicadamente quem honrou sua maré logo cedo. A natureza marítima descarta a preamar e segue triunfante no seu destino.

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