De repente, não mais que de
repente o sol se deu conta que havia chegado a hora de estancar sua fúria por
sobre a gentalha que nasce dos buracos de areia da praia, que surge dos
cômoros, que arremete sua tralha para todos os lados, que coloca o pé de cidade
ansioso no caminho livre, no bloqueado, não importa.
Com um certo sentido de vexame
resolveu arrefecer sua claridade, esmaeceu sua cor passando para um matiz
aguado, sem tintas fortes ao nascer no mar e ao deitar-se na serra, sem romper
a barreira do destempero que, cá para nós, estava assolando sua personalidade
de Rei. Esqueceu até que sua luz açoitava sem dó os gramados, as flores
silvestres, o lombo do idoso, as lagartixas, as baratas, e todo o mundo
particular ao rés do chão.
A pouca gente que colocou a
cabeça para fora depois de uma boa temporada de escaldo animou-se e foi brindar
o vento que soprava receoso e as ondas do mar bem baixinhas, parecendo que toda
a cautela é pouca em relação aos arroubos do Rei Sol neste veraneio. A
cachorrada saiu de dentro do matinho se jogando no córrego para aliviar a sede
e se foi a passo por entre as árvores procurar seus protetores de rua.
Na beira mar aquele silêncio
obsequioso dos ficantes da terra abençoada não havendo nem sombra do olá
escandaloso que permeou a costa nos últimos meses, as ruas se aquietaram e
louvaram o Rei Sol, que saiu do modo fúria, o vento soprou tranquilo com certa
sonolência e o mar abraçou delicadamente quem honrou sua maré logo cedo. A
natureza marítima descarta a preamar e segue triunfante no seu destino.
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