domingo, 20 de julho de 2025

Dia do amigo

 


Encontros acontecem a todo instante cruzando nosso caminho, pulverizando a atmosfera que nos envolve com um delicado lampejo divino e entre um sopro e outro encontramos uma sugestão, uma possibilidade, uma chance de sentimentos amorosos se instalarem ao nosso redor. É assim que a luminosa aura da Amizade blinda nossa caminhada, assim, sem aviso prévio, sem programação, sem alarde e sem busca incessante que este grandioso sentimento acontece, como o Amor.

Na Infância ensaiamos nossos primeiros passos na vida junto a terna e alegre interação com crianças que farão a diferença na nossa trajetória e marcarão para sempre nossa personalidade e a vida dali em diante. São tempos lúdicos, sinceros e divertidos que convivem com a descoberta do mundo, do autoconhecimento, da sabedoria de vida, do respeito e da mágica do relacionamento.

Chegamos na Maturidade após uma caminhada baseada nestes primeiros passos e com a experiência e o rumo tomado por cada um, alguns caminhos se desencontraram, porém, os laços de afeto engendrados em tão tenra idade jamais são perdidos por se constituírem em um dom divino e um esforço de amor de cada um.

Por fim, a Velhice vem nos mostrar a trilha de amigos composta de pedrinhas de brilhante que ilumina o caminho percorrido até aqui. Seguimos confiantes, erguemos o olhar para novos passos agora mais cautelosos, com amores menos loquazes, fala mansa, sorriso pálido, a vista turva e ouvidos mais seletivos. O olhar se volta ao modo pelo qual passamos a infância encontrando a singeleza, a novidade e a simplicidade que conhecemos nos inesquecíveis primeiros anos de vida.

sexta-feira, 18 de julho de 2025

Duas lágrimas

 


O dia chora mansinho se unindo a tantas e tantas outras vertentes cristalinas que brotam de olhos de todos os matizes sempre mantendo a audácia de tentar vazar o colorido da íris na simplória gota que rola pela face do moço, da moça, do velho, da velha, da mulher, do homem e da criança sem nenhuma distinção.

Talvez o dono do lacrimejar espontâneo a perceba translúcida e, em um primeiro momento, confunda seu significado e por este motivo singelo a deixa marejar com liberdade para que o aguado caminho seja recebido em um colo de mãe, um ombro amigo, um simples abraço, a escadaria da igreja, mãos avidas de consolo e quem sabe, a suave espuma do mar que, hoje, entristecido e calmo, a receba com carinho.

O pranto sentido jorra com a fluidez que uma tristeza costuma ter ao conseguir a alforria da alma para que, finalmente, possa percorrer todo o caminho de um rosto cheio de nuance, criada a ferro e fogo pelo tempo com tantos sulcos para desviar. Este olhar molhado se alongou por algum tempo sendo estancado no momento em que encontrou um lenço rendado entre dedos trêmulos, abafando o soluço que surgia como acompanhante.

Uma lamúria de pingos pode verter internamente por não possuir a capacidade de traçar o destino certo para um ou outro tema construindo uma trilha de pranto sem fim. São duas lágrimas que correm juntas entremeando o espirito e salteando, ora por uma aflição, ora por uma alegria surpreendente.

 

quarta-feira, 16 de julho de 2025

Dentro dos olhos

 


Nem bem havia despertado quando resolvi, de imediato, fechar os olhos, não sem antes trazer o mundo para dentro deles e seguir cega para o que existe hoje ao meu redor buscando a capacidade de, aos poucos, lembrar minhas tarefas diárias e decidir se as vou cumprir ou se vou perseguir outro caminho, bloqueando o antigo, mesmo em dúvida do que eu mesma irei apresentar.

Me parece, entretanto, que ao trazer o mundo para dentro dos meus olhos apenas a escuridão se apresentou dando a entender que a mim caberia usar os artifícios que minha percepção interna pudesse acessar e não permitir que esta cortina pesada da vida se estabelecesse por muito ou pouco tempo dentro de mim.

Ansiosa com a aventura de refazer um dia da minha vida busquei dentro do caderno do meu coração as flechas que se transformarão na probabilidade de utilizar este descuido do mundo que se apagou para mim, internamente, e montar um novo cenário. Será com meus olhos vendados que buscarei a companhia de todos que se evadiram de mim como bruma densa de inverno, vou recompor o caminho do desterro que em outra ocasião abracei sem perceber o que deixaria para trás.

Voam faíscas de todas as linhas e se reúne ao meu redor o brilho que vai iluminar  um carinho que se perdeu no emaranhado de frases, um convite declinado, um abraço que ficou no ar, um beijo retido na intenção, um encontro desmarcado, uma ausência sentida, um desejo no ar e uma esperança latente.

domingo, 13 de julho de 2025

O remédio e o veneno

 


Vou tomar um remédio para que acione em mim, por algum tempo, o modo esquecimento. Talvez eu jogue para o alto as lembranças que estão mais perto de mim, que mira meu coração, que empana minha alma, cega meu olhar e trava o caminhar em frente.

Eu imagino que somente desta forma terei um vazio perceptível e, apesar do jeito autoritário, não terei mais como algoz tantos alfarrábios amarelados que surge do porão inconsciente, bilhetes de amor escondido na página de um livro qualquer, caixas preciosas espalhadas por todo canto, laços de fita esquecidos no fundo da gaveta, quadros antigos, paramentos de vestir que já esqueci qual idade eu tinha quando os usei e fotografias antigas. Enfim, um acervo de respeito para quem tem lembranças e dia sim e outro também traz à tona uma releitura.

Vou a partir de agora usufruir de um modo letárgico, ar blasé, postura de enfado tendo meus olhos baixos e opacos, ao invés de sorrir vou estampar apenas um esgar cínico para o que se apresenta, seja do presente, do passado ou do futuro. Além disso, vou chamar um antiquário e passar a régua na quinquilharia – como dizem alguns – na feição da minha casa.

Minha mente se alojará no vazio, no minimalista, no pensamento etéreo, no jeito de não encontrar relevância em nada, de parar de vasculhar tudo o que acontece e a todo momento sair em desabalada carreira e aterrar na primeira página em branco que me aparece fazendo fluir a grafia na ponta dos dedos ou na ponta do lápis.

Por fim, vou trancar a usina de fantasia que povoa a minha mente em suspeito conluio com o inconsciente que se presta a criar e utilizar de personagens que povoam a face da terra, do mar, da floresta, do rio e da cidade lhe conferindo vida e história de todo naipe. Ao refletir sobre este remédio dei-me conta que ele também pode ser um veneno.

sexta-feira, 11 de julho de 2025

Terreno baldio

 


Dias difíceis por aqui e os sinais me vem sem que eu possa perceber claramente, mas, no andar do dia quieto e medroso que se apresenta minha figura delata em alta voz os sintomas que este dia, justamente este, pretende reportar. Fico prestando atenção, em primeiro lugar, no norte do meu amanhecer e encontro  o mar, como sempre, aguardando que o sol lhe venha fazer companhia, me olhando, porém, hoje ele parece que me espreita, me espia, me monitora e o percebo enviando mudos recados, alguns posso entender porque são sempre os mesmos, outros aqui estou tentando adivinhar.

Comecei minha investigação determinada a não olhar para trás apesar de minha cervical andar rodeando o meu corpo como se tivesse vida própria, e, de certo modo possui olhos de lince para giro selvagem e se agrada de postar-se diante de múltiplas possibilidades, aliás, um vício do meu corpo que volta e meia navega na procura de um terreno baldio para invadi-lo com meus pensamentos mais urgentes e desta vez não foi diferente.

Me rendi à muda interferência do início da manhã e fui investigar o espaço encontrando uma verdadeira trama de hera ardida que conjugava assuntos do passado embaralhando e enredando o infortúnio, a sorte, o amor, o desamor o encontro e a despedida em fortes laços do qual não conseguiam se desvencilhar.

Um pouco parva ao reencontrar os pedaços de vida misturados resolvi que a tarefa ao qual o dia me destinara seria de limpar aquele solo baldio que ousara receber os fantasmas de outro tempo, ressignificando a experiência desta aparição repentina e, aparentemente, com propósito oculto.

terça-feira, 8 de julho de 2025

Adeus

 


Faz um tempo em que, determinada, dei duas voltas na chave, virei as costas e desci a escadaria com meus pés flutuando no limbo do tempo com a minha atenção focada na estrada de uma escuridão aterradora, vazia de movimento, com apenas o ruído cadenciado da batida do meu coração que, em suspenso,  sequer ousava imaginar o que poderia vir pela frente. A estrada vazia e silenciosa parecia reverenciar a nova jornada, dando-me passagem.

Cheguei ao meu destino nas asas de Deus e na espera uma nova casa que caprichosamente aceitou o que minhas noites insones me assopraram como relevantes, me obrigando a descartar as inutilidades e em primeiro lugar, os meus piores pensamentos, as lágrimas vãs, os amores perdidos, a esperança sem fundamento. Secretamente se imiscuiu na minha bolsa de mão todos os sorrisos, a conversalhada solta, a juventude, a conversa da criança, a vizinhança, o cheiro do café, do churrasco e dos abraços em família.

Embarcada para o sempre percebi que se esvaíram pela ventarola do carro a fuligem, o trânsito, a irrelevância imperativa de tudo, o ar rarefeito, a prioridade de revés e, por fim, o abandono do ladrilho de janelas.

Abro os olhos todos os dias e me encontro com o grande Oceano a minha espera. Ali está ele, sempre pronto a me surpreender. Entrevejo os seus olhos matreiros querendo que eu adivinhe qual a valsa que ele dançará neste dia que promete ser iluminado. Em outro se diverte quando me assombro por vê-lo tão calmo enquanto meu coração sofre sobressalto, se anima em muitas ondas quando me percebe pensativa, se faz de bobo e amortece sua fúria quando a lua impera desde o horizonte e para me provocar se suja nas algas escuras. Esta vida frente ao mar é sempre diferente sendo igual.

 

 

 

 

domingo, 6 de julho de 2025

A perseguição

 


Olhei para trás e percebi que minhas costas, costas estas que em dias de hoje parecem pó de osso de tão transparente, retinha, inadvertidamente, assuntos que em sua essência não me pertencia, parecendo estar colado em mim deixando meu lombo indeciso ao perceber tanta letra mal escrita, verbo sem direção e pontuação intempestiva, sem mencionar na discordância entre substantivos, adjetivos mais a confusão do significado das palavras.

Fiquei pensando como estes personagens iletrados vieram encostar em mim podendo eu ouvir a sonoridade irrelevante da conjugação enganchada de qualquer modo. Voltei as costas tentando me livrar da perseguição anônima com óbvio propósito de confundir as asas da minha imaginação que alçava seu primeiro voo do dia.

É sempre a mesma coisa. Todos os personagens fabulosos a meu serviço vêm me visitar, cada um deles propondo o seu tema mais terno e relevante que acreditam possa ser bem trançado, subindo o tom no mais das vezes para encantar de emoção quem os vai encarar de frente. Aceito a sugestão, a embalo com carinho e guardo na minha caixa preferida de assuntos que, pelo visto, hoje se encontra em um lugar inesperado e oculto.

Assisto as letras perversas travestidas de texto voejando na minha volta em franco alvoroço imaginando que esta perseguição repentina poderá desmantelar meu propósito. Ledo engano, com astúcia enxotei o mal escrito um a um com capricho protegendo o meu alforje com as palavras e seu verdadeiro significado honrando a pena que as desenhou pela primeira vez. Voltei-me vitoriosa mais uma vez e as vi vagar sem rumo, não encontrando seu verbo, seu adjetivo, sua rima, sua frase e muito menos seu verdadeiro significado. Voilá

quinta-feira, 3 de julho de 2025

Varal

 


A vida gosta de ficar suspensa no varal, muitas vezes do avesso, de cabeça para baixo, de lado, pelas pontas, pelo meio e assim as vestes do mundo se expõe dependuradas, todo dia, nas cordas de todos os lugares para tomar um ar, pedir ao sol que jogue seus reflexos que dançam conforme o vento criando um movimento dinâmico e colorido em que os trapos ganham independência e, de certo modo, estão livres de corpos suarentos, gordurosos, esqueléticos, mal cheirosos, perfumados perfeitos e imperfeitos. 

Tremulam ao vento camisas que, dependuradas, não tem razão de existir porque lhe falta o sujeito que a enverga e, por este mesmo motivo, a vestimenta liberta do seu dono balança ao sabor da estação, muitas vezes, demorando a secar, talvez para não voltar ao corpo que cobre e circular por entre muitos e pelos quais não nutre simpatia. Melhor andar dependurado ao frio e ao calor causticante do que seguir caminhos transversos parecendo ter um desejo secreto de se tornar roto mais rapidamente e sair daquela prisão corpórea e de destino indesejado. 

No mais, enfileirados com criteriosa organização, em muitos casos, seguem juntos molhados e com variante de cor e textura calças, casacos, fraldas, lençóis, toalhas e mais o que se tem em uso na residência podendo haver sujeira de uma vida no campo contendo terra, folhas, espinhos e flores secas  que se grudam ao tecido para se aventurar por ai, fora do solo, conferindo o que rola por outras terras.

 Pode haver também a sujeira da cidade e do asfalto, a fuligem das chaminés, a poeira das calçadas, o respingo das sarjetas na vestimenta dos executivos impecáveis e urbanos que transitam pelo caos das cidades, deixando suas roupas com mais manchas que alguém possa ter a capacidade de tirar. Deste modo interessante as cidades deixam as marcas nas roupas que nenhum varal poderá limpar.

Dia do amigo

  Encontros acontecem a todo instante cruzando nosso caminho, pulverizando a atmosfera que nos envolve com um delicado lampejo divino e entr...