Olhei para aquela janela antiga
e não pude me furtar de imaginar quem poderia estar por detrás desta abertura
machucada pelo tempo e que transparecia um cansaço de existir, uma desistência
de manter a estrutura outrora viçosa com o mínimo de vigor aparente.
Certamente
por detrás da abertura abandonada existe alguém que em algum tempo atrás ali se
debruçara para acenar aos seus vizinhos, contemplar os jardins, respirar um ar
puro e na sequência voltar aos seus afazeres com a felicidade recolhida. Talvez
o morador seja todo ouvidos para os sons de antigamente, uma gritaria lúdica da
criançada da casa, um bater de panelas em um fogão a lenha fumegante, uma
afanosa atividade de dias bem antigos.
Frente
a este devaneio imaginei que a aparência de descaso guardasse um segredo de
morador ecoando por ali um grito de socorro de dentro para fora, um alerta para
o mundo que por detrás desta janela já não existe esperança nem alegria e a
única forma de chamar a atenção do entorno é demonstrar a decrepitude do
lugar.
Imagino
que a voz para o lado de dentro esteja tão fraca dos solavancos da vida que
permanece inaudível até para si mesmo. Ao invés de um grito de socorro apenas
sussurros, promovendo um vácuo no ambiente que se torna impossível de preencher
por absoluta falta de força, física – em primeiro lugar – e mental por
consequência. As horas se arrastam no tic-tac do relógio antigo contribuindo
para se idealizar uma rotina de esperança no alerta mudo da janela que fala sem
palavras.
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