Vou tomar um remédio para que
acione em mim, por algum tempo, o modo esquecimento. Talvez eu jogue para o
alto as lembranças que estão mais perto de mim, que mira meu coração, que
empana minha alma, cega meu olhar e trava o caminhar em frente.
Eu imagino que somente desta
forma terei um vazio perceptível e, apesar do
jeito autoritário, não terei mais como algoz tantos alfarrábios amarelados que
surge do porão inconsciente, bilhetes de amor escondido na página de um livro
qualquer, caixas preciosas espalhadas por todo canto, laços de fita esquecidos
no fundo da gaveta, quadros antigos, paramentos de vestir que já esqueci qual
idade eu tinha quando os usei e fotografias antigas. Enfim, um acervo de
respeito para quem tem lembranças e dia sim e outro também traz à tona uma
releitura.
Vou a partir de agora usufruir
de um modo letárgico, ar blasé, postura de enfado tendo meus olhos baixos e
opacos, ao invés de sorrir vou estampar apenas um esgar cínico para o que se
apresenta, seja do presente, do passado ou do futuro. Além disso, vou chamar um
antiquário e passar a régua na quinquilharia – como dizem alguns – na feição da
minha casa.
Minha mente se alojará no
vazio, no minimalista, no pensamento etéreo, no jeito de não encontrar
relevância em nada, de parar de vasculhar tudo o que acontece e a todo momento
sair em desabalada carreira e aterrar na primeira página em branco que me
aparece fazendo fluir a grafia na ponta dos dedos ou na ponta do lápis.
Por fim, vou trancar a usina
de fantasia que povoa a minha mente em suspeito conluio com o inconsciente que
se presta a criar e utilizar de personagens que povoam a face da terra, do mar,
da floresta, do rio e da cidade lhe conferindo vida e história de todo naipe. Ao
refletir sobre este remédio dei-me conta que ele também pode ser um veneno.
2 comentários:
A cada dia uma Crônica mais interessante que a outra! Parabéns Amiga!!!!!💗💗💗💗💗
👏👏👏
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