domingo, 6 de julho de 2025

A perseguição

 


Olhei para trás e percebi que minhas costas, costas estas que em dias de hoje parecem pó de osso de tão transparente, retinha, inadvertidamente, assuntos que em sua essência não me pertencia, parecendo estar colado em mim deixando meu lombo indeciso ao perceber tanta letra mal escrita, verbo sem direção e pontuação intempestiva, sem mencionar na discordância entre substantivos, adjetivos mais a confusão do significado das palavras.

Fiquei pensando como estes personagens iletrados vieram encostar em mim podendo eu ouvir a sonoridade irrelevante da conjugação enganchada de qualquer modo. Voltei as costas tentando me livrar da perseguição anônima com óbvio propósito de confundir as asas da minha imaginação que alçava seu primeiro voo do dia.

É sempre a mesma coisa. Todos os personagens fabulosos a meu serviço vêm me visitar, cada um deles propondo o seu tema mais terno e relevante que acreditam possa ser bem trançado, subindo o tom no mais das vezes para encantar de emoção quem os vai encarar de frente. Aceito a sugestão, a embalo com carinho e guardo na minha caixa preferida de assuntos que, pelo visto, hoje se encontra em um lugar inesperado e oculto.

Assisto as letras perversas travestidas de texto voejando na minha volta em franco alvoroço imaginando que esta perseguição repentina poderá desmantelar meu propósito. Ledo engano, com astúcia enxotei o mal escrito um a um com capricho protegendo o meu alforje com as palavras e seu verdadeiro significado honrando a pena que as desenhou pela primeira vez. Voltei-me vitoriosa mais uma vez e as vi vagar sem rumo, não encontrando seu verbo, seu adjetivo, sua rima, sua frase e muito menos seu verdadeiro significado. Voilá

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