Faz um tempo em que,
determinada, dei duas voltas na chave, virei as costas e desci a escadaria com
meus pés flutuando no limbo do tempo com a minha atenção focada na estrada de
uma escuridão aterradora, vazia de movimento, com apenas o ruído cadenciado da
batida do meu coração que, em suspenso, sequer ousava imaginar o que poderia vir pela
frente. A estrada vazia e silenciosa parecia reverenciar a nova jornada,
dando-me passagem.
Cheguei ao meu destino nas
asas de Deus e na espera uma nova casa que caprichosamente aceitou o que minhas
noites insones me assopraram como relevantes, me obrigando a descartar as inutilidades e em primeiro lugar, os meus piores pensamentos, as lágrimas vãs,
os amores perdidos, a esperança sem fundamento. Secretamente se imiscuiu na
minha bolsa de mão todos os sorrisos, a conversalhada solta, a juventude, a conversa da criança, a
vizinhança, o cheiro do café, do churrasco e dos abraços em família.
Embarcada para o sempre
percebi que se esvaíram pela ventarola do carro a fuligem, o trânsito, a irrelevância
imperativa de tudo, o ar rarefeito, a prioridade de revés e, por fim, o
abandono do ladrilho de janelas.
Abro os olhos todos os dias e
me encontro com o grande Oceano a minha espera. Ali está ele, sempre pronto a
me surpreender. Entrevejo os seus olhos matreiros querendo que eu adivinhe qual
a valsa que ele dançará neste dia que promete ser iluminado. Em outro se
diverte quando me assombro por vê-lo tão calmo enquanto meu coração sofre
sobressalto, se anima em muitas ondas quando me percebe pensativa, se faz de bobo
e amortece sua fúria quando a lua impera desde o horizonte e para me provocar
se suja nas algas escuras. Esta vida frente ao mar é sempre diferente sendo igual.
Um comentário:
Que lindo Amiga! Doce como a Vida! Parabéns!😘😘😘
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