Era muito cedo da manhã quando
Marilia percebeu que não havia sinal de vida no entorno e nem mesmo sentia
dentro de sua rotina a organização diária. Havia um vazio e um silêncio em
qualquer lado que se voltasse, parecendo haver um abandono que a invadia
carregando seus pensamentos para algum lugar insuspeito até este momento.
Começou
a acreditar que esqueceram de contabilizar esta data no calendário porque
não encontrou em lugar nenhum a faina e o lufa-lufa de um amanhecer normal que deveria
seguir em frente de maneira inexorável sem que fosse possível atrasar ou
adiantar um minuto sequer da vida.
Resolveu que começaria a
realizar uma conversa e alinhar a tarefa do dia mesmo sentindo que estava
faltando tudo para a realização do que estava almejando. Havia este ar
macambuzio que se negava a dar qualquer sinal que procurasse, mesmo que saísse
um pouco da linha.
Em poucos instantes Marilia
percebeu uma luz projetada em sua lembrança que trouxe um filme da sua infância
com detalhes minuciosos dos momentos em família, iniciado sem que houvesse
controle. Entrou em cena imagens cheias de nuance e detalhes daquela época
longínqua mostrando a evolução da vida de todos separadamente, mostrando as
diversas fases e o tempo passando. Admirada com a sensação sutil Marilia mergulhou
na saudosa história esquecendo por um momento que deveria encontrar a data
deste dia que se mostrava ausente. De repente a luz se apagou, as imagens
sumiram e sua alma foi invadida pelo sentimento de perda e tristeza e foi deste
modo que Marilia encontrou no calendário este dia que marcava uma ausência.

Um comentário:
Excelente e muito tocante esta cronica,Vera!
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