Fiz uma amarra bem forte para não me deixar
levar pelas ilusões, pelas abordagens suspeitas que volta e meia surgem do nada
como se fossem opções que eu devesse considerar. Achei por bem engendrar um bom
nó, trançado com uma corda que eu arrumei de fantasia e que tivesse um bom
significado para assim ter o poder de vinculação que funcionasse. Acredito que
esta metáfora perfeita vai deixar do lado de fora todo o desserviço que por
ventura passe por aqui, mandar para longe o que proveito não tem e resguardar
este lugar de tudo o que me desvencilhei por considerar absolutamente
necessário passar o rodo no caminho.
Assim, enrolei um por um os fios de cada
parte do artefato, misturando um pouco o sentido de cada um deles para que não houvesse
uma direção certa, desenvolvi uma artimanha para deixar um espaço no enredado e
assim fosse possível enrolar em segredo tudo o que não posso dispor no momento,
como uma palavra inspirada que sai da minha cabeça e não encontra eco nos meus
dedos e assim tudo o que flutua sem achar onde pousar. Será uma espécie de
porta-joias a céu aberto com uma pegada camaleônica para dissimular.
Tantos são os assuntos que se movimentam na
vida que tudo quer para ontem, que faz um bem danado guardar opções preciosas
que são descartadas no momento em que se apresentam. Um sorriso de algum
desconhecido, um alô de um amigo que havia sumido, uma conversa boa, uma comida
ótima, um encontro perfeito, uma musica linda, uma imagem de tirar o fôlego,
sol ao invés de chuva, uma lufada de vento repentina, um susto na chuva. São
tantos detalhes bons no meio do caos, que se não os guardarmos secretamente
para espiar novamente depois, terão passado rápido como a luz.