Era apenas um dorso, mas achei que tinha
muito a contar assim de pronto, numa passada de vista rápida, quando a imagem
entrou na minha cabeça o que significa que depois do fato ocorrido, só sai dali
em letras, que de preferência darão um significado à figura retratada com uma
estória inverossímil muitas vezes, uma confissão, uma alegoria, uma fantasia,
uma culpa. Pode ser tudo.
Apuro o olhar, como é meu feitio nos detalhes
e já ouso imaginar que este dorso está se parecendo comigo, assim descarnado em
suas entranhas, vicejando tantas alegorias de um lado, e de outro, certa
serenidade e mais abaixo, na linha do cuore, um movimento que puxa pela
graça, visto que parece haver um sorriso esburgado por ali. Acaba a leitura da
figura e já vou me enxergando nas miudezas, nos recados ocultos e na narrativa
assombrada que não aderna muito pelo contrário, se aninha na cachola como se
necessitasse certo tempo para depurar o vulto insólito.
Poderia dizer que são dois fantasmas em um lombo
apenas, um pedaço de gente e não o todo, uma parte que pelo jeito anda podendo
ser sozinha, um espectro do corpo inteiro quem sabe, um recado para quem não lembra
um alerta para quem lembra e não se manifesta.
Este ilustre que se apresenta tem em sua
testa a marca de um ponto vermelho, que tanto pode ser sangue como pode ser um
alvo caracterizado, e em sendo uma coisa ou outra sugere muitas ilações.
Analisando o lado mais intenso, com tantas
imagens, pode parecer que a alvejada detonou um sangramento que desce apenas
por um lado o que pode dimensionar que seja por ali que o passado está a se
esvair, esmerilhando a face, colocando nela alguns adereços inusitados,
descendo até o pescoço sendo acompanhando por um sorriso de caveira esgazeado. Porém,
existe sempre aquele lado impávido que não se deixa contaminar, antiaderente e
impermeável ao entorno.
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