As janelas das residências são como um olho
mágico que confisca o exterior para dentro de casa e assim, quando o sol está
brilhando tudo o mais em redor se aquece e se ilumina como se fosse o último
dia que isso fosse acontecer. Um rei tem de ser reverenciado sempre e, por este
motivo, todas as aberturas o recebem, sejam elas pequenas ou grandes,
requintadas ou rusticas, bem ou mal engendradas, pintadas ou de outro material.
O que importa é a paisagem que se descortina funcionar como um quadro que tem
vida própria, que tem independência e liberdade para ser.
As casas que se cercam de verdadeiros olhos
para o mundo se alimentam da vida que segue através delas, porque ao se
debruçar para o dia que rola, tanto a fragilidade como a fortaleza de viver se
anuncia. Pode ser que o vislumbre seja a natureza mais agreste, um jardim
caprichado, uma horta impecável, um galpão de festas, um parquinho para as
crianças, um instantâneo das dunas movediças, um oceano cheio de humor e, um
peitoril que abraça o que de fora aparece.
Este caleidoscópio para a vida pode abrigar
em sua superfície gotas de chuva quando a intempérie assola o litoral e estas
vão atuar se travestindo de lindas miçangas refletindo a luz do dia mais
cinzento, escorrendo lugubremente e arrastando pequenas sujeiras, folhas,
insetos que por ali se aventuraram, mas foram sugados pela natureza liquida e
feroz dos temporais. Uma perspectiva animadora poder ter na linha de visão
alternativa que vão se entrelaçar com o que acontece lá fora.
E assim se faz uma casa, cheia de vãos que
trarão a alma do mundo para dentro de si, para ser o fio condutor do que
acontece em família, para registrar o externo que renova o interior, para
lembrar que existe vida lá fora, para socorrer quem mora só, para homenagear
quem não mora mais ali, para chamar quem se evadiu, para guardar lembranças
remotas, para ser a rota do dia para quem não quer se perder, para consolidar
objetivos, para unir o que está prestes a se desintegrar. Uma casa com boas
janelas espia a história do lugar.
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