Insuspeita, dei-me conta que ando com os pés
fora do chão, que existe um vácuo entre mim e a terra e que ando vendo tudo do
alto, em grande angular e com uma perspectiva tão grande que até fica difícil
identificar tudo que preciso analisar. Parece-me, de pronto, que alguma força
içou-me às alturas para justamente verificar se há possibilidade de colocar
alguns pontos nos “is” desta vida que volta e meia sacoleja, dá para trás, mete
medo e depois reflui.
Porém, ao sentir em mim esta cena me rebelei
e resolvi que não iria olhar para baixo e assim deixei-me ir ao vento, hirta e
dócil, contrariando a situação intrigante. O chamado colocou-me em uma posição
singular e assim amarrada por um simples balão me lancei ao céu como se não
houvesse outra coisa a fazer com meu destino.
Nesta subida, de certo modo involuntária, dei
a partida para uma dimensão que retrata um ambiente onde moram estrelas
cintilantes, meteoros que ficam gingando entre os planetas, coreografias
inusitadas entre o sol e a lua e a terra ali em meio a uma teia costurada com
raios de luz invisíveis.
Continuei na subida com a minha cabeça se
enchendo do vazio que o silêncio impõe e por isso mesmo, quanto mais leve, mais
subia, com o meu condutor cheio de vento a me levar para lugar nenhum, destino esse
que ando me arvorando de conquistar, de me apresentar para morar, me
candidatando para ser a titular e não somente uma admiradora.
Este voo solo me faz imaginar que posso cobiçar
residir onde somente a natureza é quem dita as regras do dia, os ventos vão
uivar ou se calar ao modo deles, o sol vai aquecer o lugar se por ventura ele resolver
o fazer, e, assim a vida se simplifica no embalo do universo. Bom, com esta
ventania e este mundo do que jeito que está me faltava escrever sobre delírios,
desejos e metáforas porque assim mantenho vivo o sonho de me evadir.
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