sexta-feira, 19 de maio de 2017

Evasão


Insuspeita, dei-me conta que ando com os pés fora do chão, que existe um vácuo entre mim e a terra e que ando vendo tudo do alto, em grande angular e com uma perspectiva tão grande que até fica difícil identificar tudo que preciso analisar. Parece-me, de pronto, que alguma força içou-me às alturas para justamente verificar se há possibilidade de colocar alguns pontos nos “is” desta vida que volta e meia sacoleja, dá para trás, mete medo e depois reflui.

Porém, ao sentir em mim esta cena me rebelei e resolvi que não iria olhar para baixo e assim deixei-me ir ao vento, hirta e dócil, contrariando a situação intrigante. O chamado colocou-me em uma posição singular e assim amarrada por um simples balão me lancei ao céu como se não houvesse outra coisa a fazer com meu destino.

Nesta subida, de certo modo involuntária, dei a partida para uma dimensão que retrata um ambiente onde moram estrelas cintilantes, meteoros que ficam gingando entre os planetas, coreografias inusitadas entre o sol e a lua e a terra ali em meio a uma teia costurada com raios de luz invisíveis.

Continuei na subida com a minha cabeça se enchendo do vazio que o silêncio impõe e por isso mesmo, quanto mais leve, mais subia, com o meu condutor cheio de vento a me levar para lugar nenhum, destino esse que ando me arvorando de conquistar, de me apresentar para morar, me candidatando para ser a titular e não somente uma admiradora.

Este voo solo me faz imaginar que posso cobiçar residir onde somente a natureza é quem dita as regras do dia, os ventos vão uivar ou se calar ao modo deles, o sol vai aquecer o lugar se por ventura ele resolver o fazer, e, assim a vida se simplifica no embalo do universo. Bom, com esta ventania e este mundo do que jeito que está me faltava escrever sobre delírios, desejos e metáforas porque assim mantenho vivo o sonho de me evadir.

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