Ele está ali sempre à disposição, às vezes um
pouco mais alto, mais baixo, mais claro, mais achocolatado, mais rumoroso ou
mais discreto, mas sempre recebendo quem dele se aproxima. Ele não altera sua
feição mesmo que os seus adoradores o persigam com muitas selfies, com muitos
chutes em suas espumas e também corajosos surfistas de todo o ano se embalando
em suas ondas. Ele recebe todo mundo, no mesmo tom, e não deixa de lado sua
imponência em nenhum caso. Às vezes se acalma para fazer companhia ao dia
ensolarado e sem vento. Às vezes.
É o mar que recebe generosamente os segredos
das pessoas que vão até ele derramar algumas palavras inaudíveis, afinal, sua
extensão e profundidade são imensas e não lhe custa nada carregar para depois
da arrebentação alguns segredos inconfessáveis, juras para um amor platônico,
pressupostas brigas familiares, desencantos, promessas que não serão cumpridas
e tudo o mais que pode ocorrer de fato, se por ventura o praieiro não for fazer
sua consulta. O oceano com sua natureza grandiosa se torna um bom lugar para
que se pense em voz alta os problemas, as tristezas ou as dúvidas que se afobam
vez ou outra na vida.
É muito provável que a pessoa que aguarda uma
orientação para suas preces receba algum sinal em resposta podendo ser uma água
quente na beirinha em dia gelado, poucas e muito baixas ondas do dia parecendo
murmurar alguns conselhos, o seu rugido pode também variar na entonação como se
respondesse às perguntas que estão lhe sendo feitas. Mas, como todo
confessionário tem que saber ouvir para depois interpretar.
A maré alta, que invade solenemente a
extensão de areia pode ser uma tentativa de ajudar quem se aproxima dele nas
dunas, que o avista de um lugar mais alto, que o mira em grande angular sem ter
o atrevimento de chegar mais perto. Puro respeito. Então lá vem ele varrendo
todo tipo de obstáculo beijar os pés de quem lhe teme voltando em seguida ao
seu leito com outra bagagem que lhe foi sugerida nestes momentos mais nervosos.
Em todos os dias esta atividade acontece, nos lugares mais povoados aos menos
habitados, porque aqui quem ouve e depois responde é a natureza marítima.
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