quarta-feira, 10 de maio de 2017

Anoitecer


Aqui na praia não anoitece. Aflora um romance quando a noite chega silenciosamente, numa dança suave, enquanto a luz do dia vai se entreverando romanticamente com a penumbra, onde uma parece não querer dar o seu lugar a outra. E assim, entre a luz e a escuridão, a noite vence, louca para se deitar junto a este mar especifico, empurrando o brilho do sol para outro canto e este não terá alternativa do que a de nascer de novo. Fazer brotar outras flores, aquecer alguns lugares mais que outros, germinar novas sementes, liquefazer o gelo, alumiar leituras e aquecer corações gelados. Vai dar a sua volta ao mundo, deixando para trás mais um dia, que em sua volta amanhã de manhã, não será o mesmo.

O anoitecer acontece com muita pompa por aqui, mas não com aparato, muito pelo contrário, a natureza toda se cala para viver este momento mágico onde tudo se acalma rapidamente, os bichos silenciam suas crias e rumam para seus lugares, as pessoas correm as chinelas para dentro de casa, os carros adentram suas garagens, as bicicletas encostam-se aos muros, os cachorros se reúnem debaixo de algum arbusto.

As sombras da noite sempre vem trazer a quietude e a prece de agradecimento por ter, antes dela, recebido a luz do sol, porém, é com o mar que acontece a melhor conversa, porque quando a noite chega, as ondas – vez ou outra, é verdade – baixam o tom assim como a sua dimensão diminui parecendo ajoelhar-se para o milagre que a natureza impõe. E assim a dança continua com enlevo, em alto mar desta feita, derrubando os raios de sol que iluminavam toda a fauna marítima e por ali também se aquietam seus moradores, para que após esta virada, tudo recomece.

O entardecer prenuncia que se acalmem os ânimos, que se baixe a crista, que se eleve o pensamento uma vez que a linha de sombra avança pelo mundo todo varrendo da face da terra a luz, deixando que do alto se entreveja sua linha avançando, sem trégua, sem percalços, inexorável. A vastidão do mundo é tomada de negrume por um lado enquanto o outro se ilumina novamente, talvez agora com tarefas que não foram finalizadas ontem, mas como sempre, hoje é apenas mais um dia.   

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