Olhei para esta foto e me incorporei a ela
como se ali estivesse meu corpo, meus cabelos, meu vestido e o mar, meu
companheiro de todas as horas, mesmo que ele se manifeste diferente todos os
dias. Vai ver que eu sou parecida, gosto de me camuflar, de receber da natureza
a reza do dia, se vou estar com humor chumbado por conta da umidade,
descabelada por causa dos ventos ou serena como ondas no quebra-mar em dia
ensolarado. Gosto de pensar que o mar é meu irmão, minha irmã, meu pai e minha
mãe e que os agregados que se manifestam com ele por conta da vida que anda,
são meus amigos, meus conhecidos e mais o que passar na minha frente.
Vai daí que andar junto a ele me traz novas
vidas sempre, nas caminhadas volto em minhas pegadas brincando de saber o que
eu estava pensando quando fui até logo ali, mas nunca consigo lembrar porque a
cada passo verto lágrimas de toda a espécie, sorrio sem achar graça, olho sem
ver, sinto calor sem estar coberta e às vezes, não consigo levantar o olhar
para ele, que me acompanha com seu alvoroço.
Com este meu jeito de ir, ao voltar o caminho
minhas pegadas já sumiram, então lá vou eu a costurar o que a vida me
apresentou neste dia. Pode ter sido algo que nem tomei conhecimento porque na
beira do mar não tem telefone, então pode ser que alguém esteja tentando me
contatar, mas eu não estou na casa, pode ser também que as telas da modernidade
estejam também piscando desesperadas me mandando recados, mas estou
indisponível.
Gostei desta parte do “indisponível”, um
pecado mortal nos dias de hoje, porque não temos autorização para ficar de fora
do “modus operandi”. Assim que eu e minha “família mar” reservamos as manhãs
para esta conversa de louco, esta troca de energia, este jeito inusitado de
driblar a tristeza, esta maneira incomum de ser um todo, mesmo que a atmosfera não
nos deixe ficar bem pertinho, mesmo que as ondas não venham banhar meus pés,
mesmo que a família esteja revolta em clima que não consegue sequer olhar para
mim. Anda ocupada.
A figura demonstra um jeito apressado e
talvez seja a perfeita demonstração do que houve, da pressa que eu tinha em
mudar, da urgência em voltar a ser quem eu era mesmo que a corrida pudesse ser
apenas uma vontade e não uma certeza de chegar ao paradeiro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário