domingo, 11 de abril de 2010

Arrumação


Vem de longe a mania de arrumar. A cabeça e a casa. Às vezes se organiza uma e não outra. Outras tantas, as duas ficam a ver navios na acomodação. Não tem forma de se ajeitar. Tudo embolado.

Mas, um dia, normal como todos, amanhece diferente. No ar um céu limpo e a mente mais ainda.

E iniciamos, vagarosamente, a colocar as coisas em ordem.

Como se estivéssemos fora de controle vem tudo abaixo, mansamente. Pilhas de roupas não usadas que anseiam por terem utilidade, vestir um corpo pela pura satisfação do movimento e calor, um pouco de ar, afinal. Sair da massa de poeira em que se encontram, sempre junto a outras tantas que nem prazer lhe dá. Mais não seja pela textura do tecido ou das cores descombinadas.

A alegre algazarra do amontoado de sapatos nos fazem lembrar dos quantos caminhos percorridos através de suas solas. De tantas festas freqüentadas a gosto e desgosto e de tantos vôos para encontros de amor. De tantas sapatilhas jogadas ao ar, na hora de chegar a casa, feliz, depois de um dia de sucesso. Das botas emborrachadas que jazem mofadas de tantas chuvas que te protegeram. Caminhos de todos os dias, trilhados na mais perfeita sintonia de pés e cabeça.

Sapatos, botas, sandálias e chinelinhos, companhia que nos leva aonde a cabeça pede.

Assim também se amontoam nossos pensamentos mais escuros, que teimam em vir à tona para ensombrecer nosso dia de sol. Assim como nossas companhias, que em nada estão facilitando ou ajudando. Apenas dão sombra ao nosso viver. Do escuro para a claridade. Assim são feitos nossos segredos.

A organização termina ao nos darmos conta que ao separar e organizar nossas vestimentas e lembranças, nada ficou nebuloso. Uma a uma, elas vão sendo passadas, dobradas, empilhadas e guardadas. Assim, resolvemos também dar conta do recado em relação ao nosso afeto, nosso amor, nosso trabalho, nossa família, que se conectam, cúmplices. Cada passagem se estabelece no melhor recanto da memória.

Então, nossas experiências seguirão um destino “solo”, uma vez que as deixamos ir, libertas de nós mesmos.

Até quando?

2 comentários:

Anônimo disse...

Como é bom ler os teus textos, sempre me fazem refletir alguma coisa, Obrigado!!!
Boa semana, Carmen.

djalma de souza disse...

UM GRANDE "ENTRE ASPAS": achei perdido no meu alfarário virtual.

Dia de Faxina

Estava precisando fazer uma faxina em mim... Jogar alguns pensamentos indesejados para fora, lavar alguns tesouros que andavam meio enferrujados...

Tirei do fundo das gavetas lembranças que não uso e não quero mais.

Joguei fora alguns sonhos, algumas ilusões...

Papéis de presente que nunca usei, sorrisos que nunca darei; Joguei fora a raiva e o rancor das flores murchas que estavam dentro de um livro que não li. Olhei para meus sorrisos futuros e minhas alegrias pretendidas... E as coloquei num cantinho, bem arrumadas.

Fiquei sem paciência!... Tirei tudo de dentro do armário e fui jogando no chão: Paixões escondidas, desejos reprimidos, palavras horríveis que nunca queria ter dito, mágoas de um amigo, lembranças de um dia triste... Mas lá também havia outras coisas... e belas!

Um passarinho cantando na minha janela... aquela lua cor-de-prata, o pôr do sol!... Fui me encantando e me distraindo, olhando para cada uma daquelas lembranças. Sentei no chão, para poder fazer minhas escolhas.

Joguei direto no saco de lixo os restos de um amor que me magoou. Peguei aspalavras de raiva e de dor que estavam na prateleira de cima, pois quase não as uso, e também joguei fora no mesmo instante!

Outras coisas que ainda me magoam, coloquei num canto para depois ver o que farei com elas, se as esqueço lá mesmo ou se mando para o lixão.

Aí, fui naquele cantinho, naquela gaveta que a gente guarda tudo o que é mais importante: o amor, a alegria, os sorrisos, um dedinho de fé para os momentos que mais precisamos...

Como foi bom relembrar tudo aquilo!

Recolhi com carinho o amor encontrado, dobrei direitinho os desejos, coloquei perfume na esperança, passei um paninho na prateleira das minhas metas, deixei-as à mostra, para não perdê-las de vista.

Coloquei nas prateleiras de baixo algumas lembranças da infância, na gaveta de cima as da minha juventude e, pendurada bem à minha frente, coloquei a minha capacidade de amar... e de recomeçar...

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