Consegui finalmente colocar uma venda nos
meus olhos, mas tive antes o cuidado de fazer uma escolha preciosa e que
retratasse o meu humor que anda pelas tabelas com descalabros de toda ordem. Precisava
se mostrar translúcida para que eu não ficasse totalmente fora de controle do
que ver. O que eu desejava com esta traquinagem era parecer – pelo menos –
caricata ao desdobrar o que vejo pela frente e que se não me surpreende de
certo não me agrada. Caprichei no disfarce com esta performance plástica porque
é assim que eu quero me comportar por um tempo, acreditando que começarei a
passar uma imagem mais fria, mais distante, mais misteriosa e imutável.
A fleuma do olhar que eu vou desfilar por aí
tem o objetivo de congelar quem se acerque com falsa personalidade, quem por
ventura me olhar com interesses escusos, quem se atreva a imaginar que vai
ganhar a minha atenção sem antes passar pelo crivo gélido do meu olhar, da
posição refratária a desenganos, criada para repelir com precisão quem ousar
ultrapassar qualquer limite.
Eu encontrei este artefato revirando
sugestões de fotos, mania minha de achar inspiração já que também, ultimamente,
de dentro da minha alma não sai nada que convenha para muito. Assim me sirvo de
imagens e vou catando nos seus detalhes algo que preste para elucidar, tirando a
fórceps minhas desditas, minhas duvidas, minhas raivas, minhas alegrias, meus
escritos. Este feixe de opções existe, mas como um jogo de esconde-esconde
resvala, brincando de fazer a gente de boba alegre.
Na perfeição então esta imagem se alojou na
minha tela e com esta figura vidrada encontrei a mim mesma com tanta precisão
que viver enquadrada tornou-se de repente um forte desejo. Olhando-me de frente
assim mascarada, dei-me conta que para não perder o hábito de achar sempre uma
saída, escolhi uma “personna” que tem na altura da testa uma dica.