A minha cabeça, na maioria do tempo é oca,
mas não este vazio que se imagina ou que se denomina para quem não tem
raciocínio para nada e quando se defronta com o ter de tomar decisão ou uma
opinião corre rapidamente para a porta dos fundos. Minha cachola tem o vazio
como serventia da casa porque assim eu posso, todos os dias, enchê-la de
bobagens e no decorrer do período regulamentar do cotidiano, vou destrinchando
o que me apetecer.
Posso acordar em um dia com a mente repleta
de fantasias, desde as mais românticas – que são minha preferência – até as
mais esdrúxulas como, por exemplo, pensar no que fazer se eu tivesse muito
dinheiro. Sempre prefiro o romance que, mesmo que não o vejamos, está à flor da
pele como se fosse um amontoado de cinzas ainda quente bastando um sopro para
emergir em chamas ardentes. Com esta imaginação à solta as alternativas vão se
sobrepondo umas às outras ficando até difícil escolher qual vida de amor seria
a mais interessante ou importante, qual enlevo permanente faria meu coração
bater forte todos os dias da minha biografia até o final. Este jogo teatral, de
imaginar-se em estado de dois é realmente provocativo e de certa forma
aterrador.
Dia seguinte deixo para trás o amor e seus
desdobres e com muita pompa e circunstância como convém ao drama, acordo trágica
como se houvesse em mim acontecido algo tão devastador que nem consigo me
enxergar inteira, não vejo dentro de mim quem sou, não planejo absolutamente
nada para mais de uma hora e todos os filmes mais perversos se acomodam na tela
gigante que é o meu coração.
Ainda não satisfeita com o montante de
loucura de uma cachola inepta aparece no palco a falta que sinto de quase tudo,
das coisas mais comezinhas como me lambuzar com o proibido quindim até a caminhada
na beira da praia onde, por ora, andar descalça pode trazer uma bronquite. Mar
gelado é para os fortes.
E então vem o final deste sonho que vai
alinhando com muita parcimônia tudo o que se deve fazer e ainda por cima
avisando que o mar não está para peixe. Baixa o pano.
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