quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Loucuras


A minha cabeça, na maioria do tempo é oca, mas não este vazio que se imagina ou que se denomina para quem não tem raciocínio para nada e quando se defronta com o ter de tomar decisão ou uma opinião corre rapidamente para a porta dos fundos. Minha cachola tem o vazio como serventia da casa porque assim eu posso, todos os dias, enchê-la de bobagens e no decorrer do período regulamentar do cotidiano, vou destrinchando o que me apetecer.
Posso acordar em um dia com a mente repleta de fantasias, desde as mais românticas – que são minha preferência – até as mais esdrúxulas como, por exemplo, pensar no que fazer se eu tivesse muito dinheiro. Sempre prefiro o romance que, mesmo que não o vejamos, está à flor da pele como se fosse um amontoado de cinzas ainda quente bastando um sopro para emergir em chamas ardentes. Com esta imaginação à solta as alternativas vão se sobrepondo umas às outras ficando até difícil escolher qual vida de amor seria a mais interessante ou importante, qual enlevo permanente faria meu coração bater forte todos os dias da minha biografia até o final. Este jogo teatral, de imaginar-se em estado de dois é realmente provocativo e de certa forma aterrador.
Dia seguinte deixo para trás o amor e seus desdobres e com muita pompa e circunstância como convém ao drama, acordo trágica como se houvesse em mim acontecido algo tão devastador que nem consigo me enxergar inteira, não vejo dentro de mim quem sou, não planejo absolutamente nada para mais de uma hora e todos os filmes mais perversos se acomodam na tela gigante que é o meu coração.
Ainda não satisfeita com o montante de loucura de uma cachola inepta aparece no palco a falta que sinto de quase tudo, das coisas mais comezinhas como me lambuzar com o proibido quindim até a caminhada na beira da praia onde, por ora, andar descalça pode trazer uma bronquite. Mar gelado é para os fortes.
E então vem o final deste sonho que vai alinhando com muita parcimônia tudo o que se deve fazer e ainda por cima avisando que o mar não está para peixe. Baixa o pano.

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